domingo, 18 de outubro de 2009




PROFESSOR - O TEU SILÊNCIO


Professor, o teu silêncio secou teu olhar para a aurora.
Ao teu alheamento ergueu-se a saudade dos sussurros.
A catedral de silêncios é a própria sombra do momento, criado para te calar.
A tua voz é viúva e o tédio do teu silêncio abriga os horizontes da dor.
O teu riso professor é o eco das harpas sem cordas.
Os alunos foram cúmplice do teu calar,
mas não são acusados pelo teu eterno silenciar.


Professor, o teu silêncio é uma nau perdida em um mar de dor e solidão.
O coração dos alunos é uma âncora para esta voz surda e pálida.
É hora de assombros, no teu céu interior.
Tua alma é caverna onde as emoções são talhadas em mármore frio.
E os sonhos, professor, são tristes enganos, adormecem em leitos de dor.
O palácio das angústias é tua alma, pálida hora do sussurro.


Dói, mestre, ver o abandono dos sorrisos cristalinos e a angústia da voz cortada pelo olhar de dor.
As ruínas que abrigam tua alma é irmã daquela que acolhe tua voz.
És náufrago de um mar de dor.
Poeira ao vento do esquecimento.


Professor, um olhar furtivo e caridoso acolhe todo timbre e alegria da tua voz, enquanto um mar de lágrimas abriga toda tua dor.
Querem te silenciar, assim como querem teu esquecimento.



Os eleitos pelo povo silenciam a voz dos mestres.
Obra sublime, venceram décadas de ditadura.
Com um silenciar insistente e amplo.
Silenciar, que atinge tua alma, teu bolso e tua dignidade.
Eles profetizam: cala-te professor!
O silêncio se faz.... Até quando?


Poetisa e docente:DUCI MEDEIROS
Figura: O silencio de Henry Fuseli (http://olivrodosseresimaginarios.files.wordpress.com/)

2 comentários:

  1. Parabenizo a Duci Medeiros.
    E ouso deixar este meu, sobre o mesmo tema: aos que amordaçam a democracia... e aos que andam a (re)colocar a cavalaria nas ruas para afrontá-la...

    O SILÊNCIO NÃO É DOS INOCENTES!

    Andam com o cajado pesado do silêncio
    a despertar os monstros
    que achavam, estivessem mortos;
    e olham, sem se mover, o reerguer dos ditames.
    Infames!
    Estão a molestar o corpo da Liberdade...
    esta senhora do povo
    que muito lutou para que a deixassem viver
    depois das cicatrizes profundas de torturas tantas.

    E a Liberdade, de novo, sangra…
    Como se não bastasse o sangue derramado
    de tantos que outrora a fizeram resistir.
    Foram-se todos?
    ...Sozinha? ...Esquecida?
    Abandonada à própria míngua, a Liberdade!
    Não vêem? Estão a trazer vendas!
    [Mas olham para os lados, acendem velas, e põem seus véus!]
    Não ouvem? Os trotes se aproximam!
    [E não se escuta mais o perfume das rosas, só o vencer do canhão!]
    E ao ditador, levam armas à sua mão:
    Assim... de mão beijada,
    sucumbem a tudo
    - contra o que, outros deram a alma! -
    O medo mata. A omissão mutila.
    E a Liberdade, como minha face, se encontra contorcida
    Indignada, não [h]ouve nada...
    Só gente fraca. Só gado humano.
    Engolem tudo sem cuspir.
    Semimáquinas sem sangue nas veias.
    Não. Não sei abster-me! Nem sou para abater.
    *"Se o fim é andar de joelhos..."
    Eu não vos vou seguir.
    .
    Katyuscia Carvalho

    http://katyuscia-carvalho.blogspot.com/2009/08/o-silencio-nao-e-dos-inocentes.html

    "O provérbio nascido do povo
    às mãos de alguns filhos sucumbe
    e os que sem força não seguiram os filhos que gritam
    são os que sozinhos se arrastarão no funeral
    espezinhados por quem defenderam
    quando a desunião venceu."

    (João Miguel)

    Porque não percebo sermos seres completos
    falando aos cantos,
    pelo canto da boca e pela metade.
    Nesta vida de três décadas,
    já ouvi os mesmos ecos luas demais.
    Minha alma não é muda, não é casta,
    não se molda nem se amordaça!
    Renega e rasga as convenções mórbidas.
    Não se vende. Não aceita.
    Nem se rende nem se dobra!
    ...
    Não acredito em quem não ousa.
    E preciso acreditar em mim!

    Katyuscia, professroa.

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  2. Muito bom os textos de vocês (Dulci e Kanauã)reproduziu-os e coloquei na sala das (os) professoras(res).
    Parabéns, e fortíssimo abraço, vocês engradecem nossa categoria.
    Albenia

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