sexta-feira, 14 de março de 2008

Editorial do JC (14 de março/2008)

O Ministério da Educação divulgou uma tabela que coloca Pernambuco no último lugar entre todos os Estados do País. Um constrangimento que explica muitas das nossas dificuldades e expõe as contradições da história de um Estado que já foi considerado líder do Nordeste, detentor de indicadores culturais invejáveis, berço da formação jurídica brasileira e de notáveis educadores que ultrapassaram fronteiras e se inscreveram entre os ícones da pedagogia nacional. O mais grave da tabela, porém, é que se Pernambuco foi reprovado com maior evidência, o fato é que a fratura social é nacional e se espelha nos casos expostos pela repórter Margarida Azevedo, na edição de domingo, 9, deste JC (leia aqui). Mostra, por exemplo, o professor taxista, a professora vendedora de roupas, a que não tem como colocar uma prótese dentária, e muito mais da vida severina de homens e mulheres que se dedicam à magnífica tarefa de formar cidadãos, trabalhadores e doutores dirigentes, que fazem e aplicam as leis, e são detentores dos melhores salários.
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Do jeito que está, com os responsáveis pela formação desses dirigentes ganhando salários de fome, é difícil imaginar que o Brasil ande no mesmo ritmo daqueles que investiram na educação. Já se sabe que nações emergentes aceleraram o desenvolvimento voltando-se inteiramente para a construção de escolas, melhoria dos equipamentos de ensino e incentivo à educação pelo pagamento de bons salários. Afinal, o entendimento sempre foi que o terceiro milênio seria a era definitiva do conhecimento. Sem esta plataforma, o País estaria condenado a ser periférico, dependente, neocolonizado. Quem levou a sério essa previsão, começa a mostrar que ela era construída sobre uma base sólida. Quem não levou a sério, expõe um quadro como o que acaba de expor o MEC. E hoje, professores das redes públicas de Olinda, Recife, Jaboatão e Cabo devem paralisar suas atividades para pressionar por um piso nacional.
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Pela listagem do ministério, em apenas três Estados os salários dos professores estão acima de R$ 2 mil, com o primeiro lugar recebendo R$ 3.371, em Brasília. A média nacional é de R$ 1.369, e isso mostra que estamos perante um problema nacional, para o qual o governo acena com um piso que não sai do papel. Os resultados mais visíveis são esse cenário de miséria a que estão relegados profissionais de quem depende, em tese, o crescimento ou a estagnação de nosso País e o escasseamento de professores. Os jovens estão cada vez mais relutantes em seguir uma carreira que, se no passado foi dignificante por não estar tão profundamente distanciada de outras do serviço público e distinguir-se por formar, inclusive, as gerações de governantes, hoje sequer responde às necessidades de sobrevivência, exigindo dos profissionais que estendam a jornada de trabalho em atividades que estão longe de estimular a melhoria da qualidade pedagógica.
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A reportagem Bico ajuda professor a viver escancara um dos mais graves problemas do Brasil e, particularmente, de Pernambuco. Uma situação que abala a credibilidade de todos os governos e não apenas do atual, porque um somatório de muitas administrações, todas sujeitas a momentos de tensão com seguidas greves de professores e queda da qualidade do ensino público. O que surpreende na tabela exposta pelo MEC é a nossa posição em último lugar, quando Pernambuco sempre teve um papel de vanguarda na história do Nordeste. Uma condição que legitima todos os movimentos do professorado no passado e exigirá do atual governador mudar profundamente o que foi montado e preservado por grandes nomes da política regional e nacional, que também administraram o Estado.
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Neste primeiro momento, a saída é nacional, fica na dependência da implantação do piso que, aí sim, dará um pouco mais de fôlego a grande parte do professorado. Como a mestra que na reportagem de Margarida Azevedo sustenta cinco filhos e um marido desempregado com a remuneração mensal de R$ 430. Entretanto, dá para perceber que a implantação de um piso de R$ 950 não será suficiente para mudar o cenário educacional brasileiro. Atenua as dores de uma categoria fundamental para o País, mas não se pode dizer que teremos, a partir daí, a inserção do Brasil entre os que se impõem pelo conhecimento, pela ciência e tecnologia.

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