quinta-feira, 13 de março de 2008

Vigilância virtual


A manchete de maior destaque no Diário de Pernambuco deste dia 14 chamou a atenção para a mais nova ação da Secretaria de Educação: a vigilância virtual sobre os professores.
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Este gesto vazio não passa de mais um luminoso lance pirotécnico que não lança a mínima luz sobre o que é essencial, afinal, a falência do ensino público em Pernambuco não foi provocada por lacunas em livros de ponto.
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Profissionais descompromissados atuam em vastos segmentos do serviço público e muitos deles passaram a usufruir de benefícios patrocinados pelos contribuintes exatamente sob as bênçãos de muitos daqueles se insinuam como representantes do povo. Os irresponsáveis e os parasitas que prejudicam o serviço público e não passam de onerosos entraves ao atendimento da população devem mesmo ser devidamente cobrados, mas há métodos e critérios para isso. Se o governo quer monitoras seus servidores, então não convém vigiar apenas um segmento. Ao generalizar um monitoramento sobre os educadores sob a alegação de que este fato irá resultar na melhoria do serviço prestado, o governo acaba encobrindo fatores que não recebem a devida importância. O poder público não assume sua parcela indiscutível como agente fomentador da crise, afinal, quem dirige as políticas públicas e a gestão dos recursos deve também ser responsável por seus resultados.
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Os profissionais cumpridores de suas obrigações não terão nenhum problema com monitoramentos, mas o governo não pode gerir a educação pública com o chicote na mão.
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A sociedade tem todo o direito de receber um bom atendimento e precisa exercer também a liberdade de cobrar as garantias de qualidade sobre os serviços que o poder público oferece, mas o governo não pode desvirtuar o sentido deste exercício de cidadania para gerar um factóide administrativo. É o que está ocorrendo.
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Cobrar e exigir dos professores é necessário considerando o papel social que estes profissionais exercem, mas nós somos peões neste jogo, pois os manobristas não estão nas salas de aula. Monitorar professores é coisa muito simples e o que é simplório e imediatista sempre serve para iludir, pois todos são capazes de perceber aquilo que é superficial. Mas quem monitora os gestores das políticas públicas de ensino? Por lei, 25% da arrecadação estadual deve compor os fundos que financiam a educação e este é um grande volume de verbas - sem considerar também os repasses federais. Mas onde estão estes investimentos quando vemos escolas caídas e os professores mais mal pagos do país? Alguém monitora coisas assim? Quem monitora a necessidade das “parcerias” milionárias realizadas com as impolutas fundações Ayrton Senna e Roberto Marinho que – em tese – participam do desenvolvimento de políticas educacionais em nosso estado?
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Vale ressaltar que ano passado Pernambuco recebeu R$ 640.872.929,87 (seiscentos e quarenta milhões, oitocentos e setenta e dois mil, novecentos e vinte e nove reais e oitenta e sete centavos) referentes ao FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). Considerando ainda outros recursos próprios que deveriam ser investidos na educação, os professores monitorados não são notados pelo governo na hora de reconhecer a necessidade de possuir uma política salarial para a categoria – e vale ratificar sempre: recebemos o pior salário do Brasil. Resultado: profissionais desmotivados que precisam lecionar em três turnos para continuar tendo uma remuneração precária.
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Diante de coisas assim, seria útil monitorar também os discursos vazios e as ilusões de campanhas eleitorais retóricas onde promessas são vendidas como salvações. Seria fundamental também monitorar as intenções e a vontade política dos gestores públicos e mandatários de nossos destinos, que vão se mantendo entre factóides e dissimulações.
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2 comentários:

  1. Agora que nós professores seremos monitorados a educação em nosso estado deixará de ocupar o último desempenho a nível nacional. Tudo estará resolvido: aluno feliz portando o "kit( que contém camisa, três canetas, quatro lápis e borracha, desculpem mas minha memória falhou em relação a quantidade exata de borrachas brancas recebidas pelos alunos), não esquecendo do caderno de 15 ou vinte matérias"; e o mais importante professor monitorado vai trabalhar bem melhor!!!(rsrsrsrsrs). Esperem que essa política de arrocho em cima de um só segmento vai dar frutos.Deixo uma dica para o atual governo: queremos deixar de ser prioridade na atual gestão. Tanta atenção nos faz ficar vaidosos, olhem para todos os setores, saúde(imaginem cartão de ponto para médico?)cargos comissionados( boa parte vai fazer algo além de assinar simplesmente o ponto). Que paraíso todo o funcionalismo público monitorado, seremos primeiro mundo. Assim, garanto que a população agradecerá imensamente!!!
    O atual governo vai ter o nome gravado na memória de todos, isso é que é gestão!!!

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  2. Que tal colocar câmeras exclusivas em sala de aula para saber como estamos trabalhando? Há muitas empresas no mercado interessadas em fazer "parcerias" com Governo.
    As imagens obtidas poderiam ir ao ar no horário nobre da empresa de Roberto(Globo)Marinho e certamente ganhariam projeção internacioal.
    Salas de aulas com 50 alunos,muito barulho, falta de materiais necessários para realizar um bom trabalho, sistema de ventilação inexistente ou precário, muito calor,professores utilizando abanadores e com sede...E, no final do expediente, correndo estressado para outra Unidade de Ensino. M a r a v i l h a !
    Ah! quanto foi mesmo a gastança ( quero dizer os "investimentos em educação")ao implantar a fiscalização ON LINE?

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