quinta-feira, 29 de maio de 2008

Nada muda, apesar das "mudanças"

Dizem que educação liberta, que rompe as muralhas da alienação e amplia um vasto horizonte de consciência e senso crítico. Será? Será que educadores são educados ao ponto de atingir este ideal que juram ser viável por meio do ato que praticam como ofício? Enfim, os educados educadores são livres da alienação, gozam de consciência crítica? Há controvérsias a este respeito.
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Ontem a controvérsia ficou ainda mais clara. O sindicato, como porta-voz chapa-branca dos ocupantes do Campo das Princesas, anunciou o saldo das propostas inócuas oferecidas pelo governo. Havia no ar um gozo cínico típico dos tapeadores profissionais diante dos incautos, o tom dos mestres das artes do ilusionismo. O coelho foi sacado da cartola, mas o bicho já estava preso antes, escondido e pronto para ser exibido numa hora oportuna para tomar o público de surpresa. Os espectadores dos mágicos não conhecem seus truques, mas sabem que são truques e, mesmo assim, parecem acreditar neles. Uma assembléia também pode ser um espetáculo de ilusionismo. Ontem foi.
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Onde estava o truque? O coelho da cartola era retórico, era a coroação de um discurso através do qual o sindicato e o governo se completavam. O pior salário do Brasil está com seus dias contados, pois será convertido em antecipação do piso salarial, que será deliberado em breve e tomará força de uma obrigatoriedade para o governo. Piso salarial é um patamar mínimo, ou seja, é o nível mais baixo admitido para a remuneração de uma categoria, logo, nosso piso será em breve, novamente, o pior salário do Brasil! A ilusão do instante não deixou que esta constatação fosse percebida, portanto, cabe ressaltar: piso é o mínimo, o menor, o mais baixo, enfim, o pior!
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Se o piso salarial será antecipado para setembro, viveremos quatro meses de ilusão, pois em janeiro nenhum professor no Brasil poderá receber menos que o valor definido como piso salarial e nós, então, estaremos - mais uma vez - recebendo a mais baixa remuneração do país! Caiu a ficha?
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A gratificação de 60% será suprimida e submetida a “estudos”, isto é, seremos cozinhados em banho-maria enquanto receberemos (iludidos de felicidade temporária) o tão sonhado piso salarial num valor que já está abaixo das remunerações médias da maioria dos estados brasileiros - um estudo do IBGE (de 2007) atestou que o salário médio dos sistemas públicos estaduais no Brasil era de R$ 1.347,00 (clique aqui para conferir e veja abaixo dois exemplos ilustrativos). Diante de constatações deste tipo, só podemos crer que o governo criou (com a bênção sindical) um embuste através do qual ilude a opinião pública mantendo uma medida artificial de correção salarial “espontânea” que acabaria sendo feita por meio do nivelamento compulsório por força de Lei Federal com a breve oficialização do piso nacional. Mas as capas dos jornais já estampam o feito, o noticiário positivo (embora superficial) servirá para a campanha da reeleição.
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Para o governo tudo está perfeito: nada muda, apesar das “mudanças”! Para o Sintepe, nada demais, pois nada foi feito e nem foi preciso realizar uma campanha salarial de verdade, pois as cartas já estavam na mesa, ou melhor, o coelho já estava preso na cartola (do governo)! E para a categoria, será que a ilusão é o bastante?
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Clique nas imagens para ampliar:

Exemplo 1 - Sergipe (contracheque de dezembro de 2007):
O contracheque de Sergipe é de um professor que ingressou no serviço público em 2004 e recebe um pagamento referente ao triênio (acréscimo decorrente do terceiro aniversário do contrato), sinal de que por lá o PCC é cumprido em se tratando das progressões - o que não ocorre aqui, onde as progressões intermediárias são ignoradas pelo governo. O professor que possui carga de 200 horas/aula recebe salário líquido de R$ 1.442,71.
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Exemplo 2: Alagoas (contracheque de outubro de 2007):
O contracheque de Alagoas é de um professor que possui carga-horária de apenas 20 horas semanais e ingressou no serviço público em 2006. Este professor alagoano em início de carreira e ainda em estágio probatório recebe salário líquido de R$ 884,88. Isto é bem mais do que recebe um professor na rede estadual de Pernambuco em início de carreira trabalhando uma jornada correspondente ao dobro daquilo que é pago e este professor de Alagoas.

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