segunda-feira, 7 de junho de 2010

JC ONLINE (03/06/2010)

Denúncia
Professores criticam burocracia e falta de estrutura nas escolas. Enquanto uns não têm tempo de preencher dezenas de diários de classe, outros precisam levar o próprio material para dar aula.
Paulo Alexandre é obrigado a preencher 19 diários de classe.
"Ser professor sempre foi encarado como um sacerdócio, aquela pessoa desprendida. Esse tipo de pensamento facilitou muito a nossa degradação". O desabafo do professor de história Paulo Alexandre, 35 anos, revela o descontentamento que muitos docentes sentem com relação à profissão. Além da desvalorização em termos salariais, muitos se queixam da falta de estrutura na escola, da indisciplina dos alunos e do excesso de burocracia nas escolas. Esses desestímulos, afirma o professor, vão deixar as salas de aula sem mestre: "Somos aqueles que estão colocando tijolo por tijolo na base do desenvolvimento de uma sociedade. Infelizmente, podem faltar pedreiros um dia".
Paulo Alexandre, que abandonou administração para cursar história, graduação que não teve coragem de fazer inicialmente pelo pouco retorno financeiro, ensina numa das 160 escolas consideradas modelo, os chamados Centros de Referência em Ensino Médio de Pernambuco. Com muros pintados, salas limpas, jardim bem cuidado e laboratório de informática climatizado, essa "ilha da fantasia", nas palavras dele - porque não representa a realidade das demais unidades públicas -, é a Escola Estadual Professor Trajano de Mendonça, em Jardim São Paulo, Zona Oeste do Recife.
Apesar da excelente estrutura de trabalho, as atividades do professor esbarram na burocracia. Ele ensina três disciplinas - história, sociologia e filosofia - em seis turmas de 1º ano e história numa turma de 3º ano, ou seja, são 19 diários de classe que ele é obrigado a preencher. "Trabalhamos com uma caderneta que nos toma um tempo que é precioso para elaborar nosso trabalho e nós trabalhamos basicamente para preencher burocracias. Temos fiscais nos cobrando um diário de classe preenchido, mas não tem ninguém nos cobrando uma boa qualidade de aula", reclama o professor que, em época de prova, precisa corrigir mais de 700 testes em uma semana.
Assim como Paulo Alexandre, a professora de geografia Maria Albênia de Souza, 51, também sofre com esses relatórios diários, mas reclama, principalmente, da relação distante com os gestores. Ela ensina 24 turmas de 6ª série ao 1º ano e EJA (Educação de Jovens e Adultos) na Escola Estadual Santa Sofia e na Escola Estadual Torquato de Castro, ambas em Camaragibe.
"Somos cobrados diariamente, mas em momento nenhum alguém chega para perguntar sobre nossa satisfação em relação ao trabalho, se a sala está cheia, se os alunos estão incomodados com o calor, com a água da chuva que entra", afirma.
O professor de história vai mais além: "Nós não somos ouvidos no processo de planejar a educação em termos macro, de programa geral de desenvolvimento do Estado. Infelizmente, um certo grupo de burocratas dirige a educação e o professor vira um mero executor de um programa que vem de cima para baixo".
O principal desafio da professora Albênia, porém, não é a burocracia. Ao contrário de Paulo Alexandre, ela não trabalha numa escola que é referência. A Torquato de Castro, em Aldeia, apresenta sérios problemas estruturais. A unidade foi criada no início de 2008 para absorver os alunos e professores que não foram inseridos na Escola Tito Pereira, já que essa passou a ser escola modelo exclusiva para o ensino médio. Segundo a professora, o local era uma antiga fábrica de biscoito e foi reformado para abrigar a escola. "É um galpão, onde fizeram algumas reformas, as paredes são de gesso e vivem constantemente caindo. Um calor insuportável, porque, apesar de ser climatizado, são ventiladores e ar-condicionados antigos", reclama a professora de geografia que leva o próprio material de aula, pois a escola também carece de mapas e globo.

2 comentários:

  1. Já faz um tempo que abordamos a temática da desestrutura das escolas públicas de nosso estado. Acredito que se nos organizarmos para fazermos um dossiê para cada GRE:reunirmos fotos e demais notícias sobre a falencia das escolas de nossa área, conseguiremos subir mais um degrau no desmascaramento do processo de maquiagem feito pelo governo, quando afirma que tudo está bem cm nossas escolas.
    Tais dossiês devem ser encaminhados com pompa e circunstancia, contando com a presença dos jornais e rádio, ao MPE.

    Isto já deveria estar sendo feito pelo sindicato, mas vcs sabem como eles são(eles digo a atual gestão do SINTEPE). Se fossem professores apenas a nossa realidade seria bem outra.

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  2. Eu nem sei mais o que significa preparar aula.
    Desde que entrei no estado minha rotina de trabalho se resume a quadro, giz(piloto), caderneta, quadro, giz(piloto), caderneta, quadro, giz(piloto), caderneta, quadro, giz(piloto), caderneta, quadro, giz(piloto), caderneta, quadro, giz(piloto), caderneta...

    Isso quando não aparece planilhas de conselho e mapa de notas pra preencher.

    Graças a Deus meus alunos me compreendem quando digo que, se não dou uma aula de melhor qualidade pra eles, não é por negligência minha e sim pela exploração que essa gestão mascarada do governo tenta nos impor.

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