terça-feira, 15 de julho de 2008

Quando a escola pública ganha da particular


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Quem são os pais que optam pelas escolas estaduais e municipais.
O que eles ensinam a seus filhos – e ao Brasil
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Revista Época (ed. 530)
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- “Você anda tão pão-duro. Como você tem coragem?”
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Responder a perguntas assim virou rotina na vida da catarinense Mirna Schwendler, de 38 anos, desde que matriculou os dois filhos, de 10 e 8 anos, numa escola pública de Brasília. Quando alguém pergunta onde seus filhos estudam, Mirna já sabe que a reação será essa. Ou longos silêncios de espanto. Ela, que poderia pagar para os dois estudarem numa escola particular, fala sobre o assunto rindo: “Tem muito preconceito. É impressionante”.
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Os filhos de Mirna estão matriculados numa escola pública regular. Não tiveram de enfrentar provas concorridas, típicas dos colégios militares e escolas federais, conhecidos como a nata do ensino público no país. Nada na Escola Classe 314 Sul, onde estudam, lembra um centro de excelência. O prédio é bem cuidado. É limpo, mas requer reparos. No canto do pequeno pátio interno, carteiras empilhadas aguardam conserto. As salas são quentes e contam apenas com velhos ventiladores de teto. A organizada biblioteca tem poucos livros. As revistas são do ano passado. Conquistas como quadros brancos, persianas e máquina de xerox são fruto de doações e receita da festa junina. A escola só tem três computadores.
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Você colocaria uma criança para estudar lá? Não? E se soubesse que dessa escola saíram as melhores notas das redes pública e privada do Distrito Federal? A Escola Classe 314 Sul, que vai da 1ª à 4ª série, ficou com média 6,7 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2007. A média da rede particular foi 6,1. O Ideb, índice do Ministério da Educação, combina o desempenho dos alunos nos exames federais de Português e Matemática (Prova Brasil e Saeb) com o porcentual de aprovação das escolas. Isso significa que a pequena escola pública brasiliense, com carteiras empilhadas e ventiladores velhos, oferece um ensino melhor que muitos colégios particulares com piscina e piso de ladrilho hidráulico.
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Como ela, há no Brasil 308 escolas públicas de 1ª a 4ª série com resultado igual ou superior ao da rede particular. Elas estão em cidades grandes como Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Curitiba. Muitas ainda não ganharam notoriedade e não exigem provas de seleção para a entrada de novos alunos. A qualidade desses colégios, onde estudam 92 mil crianças, explica a decisão de pais e mães como Mirna. Ao trocar o ensino privado pelo público, eles quebraram um tabu. Pagar pela educação não é, necessariamente, um bom investimento. E, apesar da constante necessidade de dar explicações, esses pais não estão arrependidos.
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As 308 escolas públicas com médias acima das da rede particular são uma exceção num universo de 38 mil instituições. É importante lembrar que também existem milhares de escolas privadas acima dessa média. Nas últimas décadas, o ensino privado se firmou como uma opção no Brasil justamente porque sua qualidade era superior à das escolas municipais ou estaduais. Na média nacional, as escolas privadas estão com 6 no Ideb, a média dos países desenvolvidos. As públicas têm nota 4,2. Até por uma questão numérica. A rede particular de 1ª a 4ª série possui 2 milhões de alunos selecionados por poder aquisitivo. Já na rede pública há 16 milhões de alunos.
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A escola pública costuma abrigar alunos menos favorecidos, moradores de bairros onde o serviço público peca pela falta de qualidade em áreas estratégicas, como saúde, segurança, transporte e assistência social. A renda baixa dos pais, a violência e a falta de acesso a locais onde há emprego e equipamentos culturais são alguns dos fatores que prejudicam o desempenho das crianças. Mas as 308 escolas acima da média revelam que, apesar de todas essas dificuldades, dá para conseguir bons resultados. Seus exemplos ajudam a mostrar um caminho para recuperar a educação no país.
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Qual é o segredo dessas boas escolas públicas? Parte do sucesso pode ser explicada pela qualidade da gestão. Na Escola Classe 304 Norte, a segunda mais bem colocada em Brasília, a gestão é compartilhada com um conselho escolar, com 30 representantes, entre funcionários, professores e pais. “Muitos acham que dividir a gestão é perder poder. Discordo”, diz a diretora, Roberta Farage. “Isso exige que os pais participem do processo educacional dos filhos e exerçam cidadania. Dá trabalho, mas vale a pena”. Os pais que são membros do conselho vão às reuniões e cobram do governo e da Justiça seus direitos. Costumam recorrer todo ano para fazer valer uma lei do Distrito Federal que estabelece um máximo de alunos por turma, para evitar classes superlotadas. Esses pais já foram chamados de “gangue da 304”. A Associação de Pais e Mestres garantiu a compra de seis computadores para a escola, reforma da fachada e, graças a doações generosas, material escolar e “patrocínio” de passeios aos estudantes mais carentes.
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Dá para sentir os efeitos desse tipo de gestão no cotidiano dos alunos. Numa segunda-feira à tarde, mais de cem crianças do colégio estão sentadas no pátio. A assembléia de estudantes atinge seu ápice, com aplausos e gritos, quando um aluno sugere a troca do chão de cimento da quadra para grama sintética.
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– Grama sintética é uma boa idéia? – pergunta a diretora.
– Ééééééé... – o coro responde.
– É uma idéia barata?
– Nãoooooooooo...
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Depois que as crianças retornam para as salas de aula, Roberta diz: “Estamos decidindo o que fazer com a verba da reforma e ouvimos também os alunos sobre isso”. Quanto eles têm para usar? “R$ 2 mil”, responde. “Pois é, tanta mobilização para decidir como gastar R$ 2 mil que nem chegaram.” E dá risada.
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A maior prova de confiança de Roberta no próprio trabalho são seus filhos, Henrique e Helena. Eles estudam lá. A escola também ganhou a confiança do biólogo Eric Fischer, do administrador Roberto Ghiggi e do designer Masanori Ohashy. Esses pais de alunos têm algo mais em comum: eles poderiam pagar por ensino privado, mas fazem questão de participar na gestão da escola pública.
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“A escola pública de qualidade só vai existir quando a classe média apostar nela”, diz Masanori, pai de Clara e Alice, alunas da 4ª e da 2ª série da Escola Classe 304 Norte. “Não gosto dessa história de preparar minha filha para o vestibular. Adestrando, você não dá autonomia. Quero que minhas filhas saibam resolver seus conflitos”. O administrador Ghiggi, outro pai de aluno, valoriza o convívio eclético do ambiente escolar público. “Eu queria que meus filhos tivessem uma formação ampla, de convívio com pessoas iguais e diferentes deles, como eu tive”, diz. “Vejo aqui uma inclusão social inversa. Minha mulher diz que sou sonhador, mas esse é um risco calculado, porque a escola é boa”.
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O Distrito Federal costuma ser citado como uma exceção nacional no quesito ensino público. É lá que o professor ganha os melhores salários do país. Eles já entram recebendo R$ 3.200. “Um aluno aqui custa R$ 600 por mês para o governo, o preço de uma escola particular. Então, precisamos oferecer um ensino de mesma qualidade”, diz o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). Isso não significa que o ensino público na capital federal seja uniforme, pois o investimento financeiro não se traduz automaticamente em qualidade. O governador, que vive há mais de 30 anos em Brasília, tem oito filhos. Nunca matriculou nenhum em escola pública.Embora o orçamento por aluno seja o mesmo, há escolas em Brasília com notas bem abaixo das melhores. Por que isso acontece? “Escola com bom diretor é boa. E a boa escola captura os pais para a educação dos filhos”, diz o secretário de Educação do Distrito Federal, José Valente.
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Boa direção e pais atuantes são a fórmula que tem compensado a falta de estrutura típica dos estabelecimentos mantidos por Estados ou municípios. “Temos aqui quatro ou cinco pais analfabetos tão presentes quanto os pais com nível superior. Todos buscam a mudança pela educação”, diz Bernadete Caparica, de 47 anos, vice-diretora da escola pública com o melhor resultado no Ideb do Distrito Federal, onde estudam os filhos de Mirna. Segundo Bernadete, 80% dos 356 alunos moram em bairros carentes e distantes do centro de Brasília. Há, ainda, 19 com necessidades especiais. A escola tem dado ênfase à leitura. O projeto Prazer em Ler reserva uma hora por semana para que as crianças leiam, na escola, sem cobranças posteriores. Depois do recreio, o sinal toca várias vezes, até a algazarra dar lugar a um alegre murmurinho de 179 crianças sentadas. Quando a confusão finalmente cessa, elas escolhem o que vão ler, entre livros, gibis e revistas. Parecem se divertir.
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“Essa escola foi uma revolução na minha vida. Antes dela, joguei dinheiro fora”, diz Helenice Halbe, funcionária do Superior Tribunal de Justiça. Ela é formada em Direito e Economia e mãe de Bernardo, aluno da 4ª série. Recorreu à escola pública em busca de mais disciplina para o caçula de três filhos. “Percebia um certo receio das professoras da escola privada em ser duras com ele e me desagradar”, diz. Pela escola da filha mais velha, Helenice ainda paga R$ 960 por mês.
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Um bom ensino público não é privilégio da capital federal. A mãe Gláucia Saraiva Eugênio, que mora em Anália Franco, bairro de classe média de São Paulo, descobriu que a escola pública podia ser mais forte que a particular. Seu filho Isaac, de 8 anos, estuda no período da tarde na escola Blanca Zwicker Simões, da rede estadual. Gláucia tirou seu filho de uma tradicional escola particular paulistana (cujo nome prefere não publicar) quando percebeu que, na 1ª série, ele continuava fazendo os mesmos exercícios de unir os pontos que fazia no pré. Depois de, com outras mães, reclamar com a direção e não ter resposta, partiu em busca de outra escola. Visitou as melhores particulares da região, mas nenhuma aceitou o menino que ainda não sabia o alfabeto. Sugeriram que terminasse a 1ª série na outra escola e repetisse o ano. “Eu não ia investir mais tempo da vida de meu filho e nosso dinheiro naquela escola”, afirma Gláucia. No colégio estadual, cujos resultados no Ideb de 2007 e 2005 estiveram acima dos da rede particular, ela encontrou uma resposta. “Conversei com os professores e olhei os cadernos. O ensino dado ali era muito parecido com o das particulares que visitei”. Em agosto de 2007, Isaac estava transferido. Para ele pegar o ritmo, sua professora deu aulas de recuperação e lição extra para casa. De manhã, Isaac freqüenta aulas de Português e Matemática no Kumon (curso que usa um método de ensino desenvolvido no Japão), faz aulas de piano e pratica natação. Aos sábados, a família dirige até um município vizinho para as aulas de equitação do garoto. “As pessoas acham que estamos economizando na educação dele”, afirma Gláucia, única entre as amigas cujo filho estuda na rede pública. “Não conseguem entender que, em nosso caso, o melhor investimento foi colocar o Isaac numa escola pública”.
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O princípio democrático é outra vantagem da escola pública. Ela não pode fechar as portas a alunos em situação de defasagem, como Isaac. Nem para crianças com dificuldades especiais. “Uma das grandes preocupações do meio acadêmico é essa visão da educação como um serviço”, afirma Erasto Fortes Mendonça, especialista da Universidade de Brasília (UnB) em políticas públicas para educação. “O ensino não é uma mercadoria pela qual você paga. É um direito do cidadão”. E essa é uma das melhores lições que os alunos da rede pública podem aprender.
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As escolas públicas podem oferecer ainda vantagens menos visíveis. As boas particulares, em geral, oferecem estrutura esportiva e de lazer, além de aulas extracurriculares, como robótica, música e natação. Ao mesmo tempo, podem funcionar como uma barreira que isola os alunos do convívio com colegas de outras classes sociais. “O menino que cresce fechado no universo da escola particular não tem contato com a diversidade”, afirma Romualdo Portela, especialista em política educacional da Universidade de São Paulo (USP). “Ele pode não conseguir sair na rua e se relacionar bem. Isso é um problema num mundo que valoriza a flexibilidade e a capacidade de relacionamento com o diferente”. Romualdo lembra também que, com o dinheiro economizado na mensalidade, os pais podem investir em mais atividades extracurriculares que uma escola pode oferecer.
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Há 23 anos, Maria Emília Gonçalves Gasparetti, diretora da Escola Estadual Marechal Mallet, de Campinas, em São Paulo, mantém sua instituição no topo da lista das melhores do Estado. A escola obteve a nota 7,2 no Ideb em 2007. A Mallet mantém aparência bem diferente da escola pública comum. Tem paredes brancas, quadros com temas infantis pendurados, plantas pelos corredores e assoalho e banheiro limpos. É essa a estratégia da diretora para manter a ordem. “Eles respeitam se vêem tudo limpo”, afirma. Sempre que aparece uma marca de pé na parede ou rabisco na porta do banheiro, a sujeira vira um caso público. “Quando recebemos alunos transferidos de outras escolas, é comum aparecer papel molhado grudado no teto do banheiro”, diz Maria Emília. “Chamamos o pai no mesmo dia para dizer que não toleramos isso aqui. São eles os responsáveis em fazer o filho respeitar a escola”.
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A mãe Rita de Cássia Mendes Gonçalves já foi chamada várias vezes à escola. A última foi neste verão, quando seu filho Caio Augusto, de 9 anos, fez uma de suas estripulias: tomou um banho de água de torneira com os colegas da 3ª série. No telefone com a diretora, Rita decidiu, como castigo, não levar uma roupa seca à escola e deixou o filho assistindo à aula molhado. “Na minha época, quem rabiscava a parede passava o intervalo limpando com a bucha”, afirma. “Essa diretora conseguiu manter o padrão da escola de antigamente. É nossa responsabilidade manter assim”.
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Para alcançar as boas notas, não basta disciplina. A escola montou uma estante de livros em cada sala, para os alunos que terminam a tarefa antes da hora. Não se trata de material didático, mas histórias de autores infantis, como Ana Maria Machado, Monteiro Lobato e Ruth Rocha. Para o intervalo, um cantinho da leitura foi montado no pátio. Um tapete no chão, um banco e uma estante cheia de gibis e livros de leitura rápida estão à disposição dos alunos. Antes de o espaço ser criado, eles saíam para o recreio com livros da estante da sala embaixo do braço.
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Formada em Farmácia, Rita tem uma representação comercial com o marido. Ela estudou a vida inteira em escola pública e decidiu colocar Caio na Mallet porque gosta de vê-lo convivendo com pessoas de classes sociais diferentes. “No meu círculo de amigos, todos colocaram os filhos em escolas particulares. Acho que somos privilegiados de ter a Mallet”, diz. Para a 5ª série, porém, já se conformou com a perspectiva de procurar uma escola particular. Tomou a decisão quando uma tia, professora da rede pública, viu um aluno de sua escola cheirando cocaína na carteira da sala. “Nunca vou deixar meu filho estudar em um lugar assim”.
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As escolas privadas, em geral, oferecem um ensino superior ao das públicas. Mas a rede particular não está imune à queda de qualidade. A rede privada em São Paulo, Minas Gerais, Roraima e no Distrito Federal apresentou queda no Ideb de 2005 e 2007. O fenômeno ainda é incipiente. Em São Paulo, a nota caiu em 0,1 ponto. Ele pode ser um sinal do início de um processo semelhante ao ocorrido com a expansão de vagas na rede pública. Hoje, devido à imagem desgastada da escola pública, o primeiro investimento dos pais que conseguem elevar sua renda é pôr o filho numa escola particular. Nos últimos anos, a oferta cresceu mais que a demanda, obrigando as escolas a competir pelos alunos. Em São Paulo, de 2002 a 2006, o número de estabelecimentos cresceu 27%, enquanto o de alunos aumentou em apenas 8%. Para cada escola nova, a rede particular ganhava apenas 27 novas matrículas.
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Em vez de a competição estimular as escolas a oferecer um ensino diferenciado, ela foi pautada pelo preço. “Infelizmente, a estratégia para enfrentar a concorrência adotada por algumas escolas foi reduzir custos”, afirma José Augusto Lourenço, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino e diretor do Colégio Padre Anchieta. “Para isso, muitas delas passaram a procurar professores menos qualificados, que aceitassem salários mais baixos.” O Sindicato dos Professores de São Paulo, que agrega funcionários da rede particular, reúne vários processos trabalhistas contra escolas privadas que pagam salários abaixo do piso a seus professores. “Os pais têm a falsa idéia de que colocar na rede particular é garantia. Tem muita escola privada que nem tem projeto pedagógico”, diz Ailton Fernandes, diretor do sindicato.
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A divulgação do Ideb ajudou a identificar as melhores escolas públicas. Mas ele ainda não permite uma comparação direta entre cada escola da rede privada. Essas notas ainda não são calculadas pelo MEC. Hoje, ele faz um levantamento por amostragem da rede privada. “Os sistemas de medida são importantes porque permitem que os pais tomem a decisão sobre a escola de seu filho com base em informações”, afirma Portela, da USP. “Para que possam comparar escolas privadas com públicas, os resultados precisam ser unificados nas duas redes”. Esse sistema de comparação já mudou a lógica da rede particular para os alunos mais velhos. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) revelou que as escolas técnicas federais oferecem ensino melhor que alguns dos mais tradicionais estabelecimentos de ensino da rede particular. O aumento da procura pelas primeiras no ranking do Enem também obrigou escolas privadas a rever suas práticas pedagógicas.
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Alguns profissionais de escolas privadas reavaliaram mais que suas práticas pedagógicas. Dona de um jardim-de-infância particular no Rio de Janeiro, a professora Claudia Jordão Terrezo tirou a filha Flávia, de 9 anos, do melhor colégio particular de sua região e matriculou-a numa escola municipal. O problema não foi dinheiro. Claudia e o marido são empresários, e a mensalidade de R$ 380, a mais alta da vizinhança, não pesava no orçamento. “Ouvi muito conselho para não vir, mas me informei bastante sobre a escola. Acertei. Estou feliz aqui e minha filha mudou muito”, afirma. “Em seis meses, ela, que era uma menina tímida, agora conversa com todo mundo de todas as classes. Minha filha hoje faz poesia”. Claudia se emociona ao falar da mudança pela qual a menina passou. Virou militante da Escola João de Deus. “As pessoas têm muito preconceito, mas já convenci alguns pais”, diz.
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A filha de Claudia é uma das 307 crianças da pequena escola municipal que fica numa pracinha simpática da Penha, bairro de classe média baixa na zona norte do Rio de Janeiro. Dirigida pela professora Luciana Landrino, escolhida por eleição direta há 18 anos e reeleita de lá para cá, a João de Deus obteve média 6,9 no Ideb. Ficou pouco abaixo de nomes tradicionais do ensino público no Rio, como Pedro II e Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Para a diretora, a João de Deus conseguiu a proeza porque tem o objetivo de fazer os alunos pensar. Ela diz que a escola valoriza ao máximo a leitura, a escrita e a análise. Todos os alunos levam para casa dois livros por semana. A escola tem uma professora exclusiva para a sala de leitura e administração da biblioteca. “Acabou a época do ‘quem descobriu o Brasil’”. A criança de hoje precisa saber como foi o descobrimento, as razões que trouxeram Portugal aqui e as conseqüências disso para o país”, diz a coordenadora pedagógica Petronilha Alice Meirelles. A escola não faz processo seletivo. Entram os primeiros da fila que se forma na porta antes de todo ano letivo.
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A fórmula da João de Deus atravessa gerações. Luciana, a diretora, foi professora da dona de casa Rosângela Oliveira na mesma escola, onde também estudou seu pai. Agora é a vez dos filhos. “Só não matriculei meus filhos antes porque não tinha vaga. Esperei dois anos, mas vale a pena”, diz Rosângela. Os resultados mostram que é possível fazer ensino de qualidade numa escola pública. “As pessoas acham que escola municipal é de graça, mas o cidadão paga imposto e temos de fazer o melhor para atender a clientela”, afirma a diretora. “Acabou a história de que aluno da rede pública é pobrezinho, coitadinho. Ele merece o melhor como todos os outros”.
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