A sociedade brasileira vive atualmente uma condição de caos social, a barbárie se instalou nos quatro cantos do nosso país (basta ler os noticiários dos grandes jornais do Brasil), porém o que se precisa analisar e refletir são quem são os bárbaros e qual sua relação direta e, ou indireta à contribuição desse caos.Vou partir do princípio da colonização do Brasil e da própria abolição da escravatura, já que estamos em ano de centenários de Joaquim Nabuco e João Cândido, pessoas importantes no quesito liberdade. É sabido de todos que a vinda do português para as terras tupiniquins (sem pejorativismo) se deu com o propósito de explorar a terra, catequisaros indígenas e todos que não fossem cristãos e escravizar o negro.Um pouco mais adiante na História do Brasil tivemos a Abolição da Escravatura, que propunha a liberdade do negro africano e de seus descendentes afro brasileiros, entanto junto com a tal abolição vieram as ideias e os projetos cruéis e violentos de desvalorização, demonização das religiões e cultura, exclusão e eliminação do povo negro. Tudo isso se deu de forma sutil e estratégica, imbuindo na mente de brancos, negros e indígenas as ideias de que a etnia branca era superior às outras, criando dessa maneira estigmas negativos às etnias que não fossem brancas e reforçando doutrinas eugenistas, onde só se valorizava o que pertencesse à visão de mundo e cultura branca europeia. Nesse contexto instala-se uma verdadeira barbárie. A violência causada pelo projeto de Nação Brasileira ancorado nos termos acima causou outra violência que foi a exclusão espacial daqueles que eram diferentes do ideal, obrigando-os a ficarem no lugar que deveria ser deles: os morros e favelas, ambiente que separava ricos de pobres. Com essa separação acreditava-se que os ricos estariam protegidos da violência, o que de fato, por um curto espaço de tempo deu certo, pois a classe rica estava, digamos protegida, basta a gente lembrar que as casas, num passado remoto, tinham muros baixos, não precisava de grades em portas e janelas, as pessoas podiam caminhar pelas ruas sem serem assaltadas, violentadas ou mortas, os que possuíam carro estavam seguros dentro deles, enfim. Toda a violência estava centralizada nos cantos mais distantes das cidades, nas favelas e morros (local onde o contingente maior de pessoas é de etnias negras e/ ou indígenas).As leis criadas em nossa Nação desde sua concepção de Brasil, traziame, às vezes, ainda trazem, nas entrelinhas de seus textos, ideologiase pensamentos que percebiam os seres humanos de etnias negras eindígenas como preguiçosos, incapazes, satânicos, feios, fedorentos, infantis, asnos (lembrem-se do termo desarnar, que significa "deixarde ser asno, burro" usado nas escolas para adjetivar crianças que tinham dificuldade de aprendizagem), evidentemente que todo esse discurso era construído, ora de forma proposital via Racismo Científico (ver Cesare Lombroso), ora ingênuo, pelo fato da negação doconhecimento do outro lado da História dos povos negros e indígenas, porém os estigmas de tudo isso prevalecem até hoje, século 21. Outra estratégia para criação da Nação Brasileira foi a de branqueamento e do discurso de relações cordiais entre senhores e cativos, pensamento muito bem difundido por grandes personalidades de nossa história como Gilberto Freyre, Nina Rodrigues, entre outros. Mesmo com toda essa munição em mãos para exterminar do seio da "pátria amada" tudo o que não condizia com a visão de mundo eurocentrista, branca: os bárbaros não puderam evitar que se instalasse a barbárie social e o caos em que se vive hoje no Brasil, pois o "tiro saiu pela culatra", e o "feitiço virou contra o feiticeiro", hoje não é mais a favela e o morro (símbolo do oprimido) que morrem sozinhos violentamente. A luta por sobrevivência nessa sociedade tão injusta produziu uma situação de barbárie total em que ninguém está seguro, nem rico nem pobre. A nós resta saber quem são os bárbaros da nossa sociedade e qual relação direta ou indireta deles para com a barbárie e o caos, pois não existe barbárie sem bárbaros.
Autor: Carlos Tomaz Roberto, professor de rede pública estadual (PE).
Nenhum comentário:
Postar um comentário