terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Aula cronometrada

Com um método já aplicado em países de bom ensino, o Brasil começa a investigar o dia a dia nas escolas

Roberta de Abreu Lima  - Revista Veja
Fotos Eduardo Martino/Documentography e Istockphoto/RF
Controle do tempo
Escola municipal no Rio de Janeiro: os cronômetros vão ajudar a entender as causas da evidente ineficácia na sala de aula

As avaliações oficiais para medir o nível do ensino no Brasil têm se prestado bem ao propósito de lançar luz sobre os grandes problemas da educação – mas não fornecem resposta a uma questão básica, que se faz necessária diante da sucessão de resultados tão ruins: por que, afinal, as aulas não funcionam? Muito já se fala disso com base em impressões e teoria, mas só agora o dia a dia de escolas brasileiras começa a ser descortinado por meio de um rigoroso método científico, tal como ocorre em países de melhor ensino. Munidos de cronômetros, os especialistas se plantam no fundo da sala não apenas para observar, mas também para registrar, sistematicamente, como o tempo de aula é despendido. Tais profissionais, em geral das próprias redes de ensino, já percorreram 400 escolas públicas no país, entre Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro. Em Minas, primeiro estado a adotar o método, em 2009, os cronômetros expuseram um fato espantoso: com aulas monótonas baseadas na velha lousa, um terço do tempo se esvai com a indisciplina e a desatenção dos alunos. Equivale a 56 dias inteiros perdidos num só ano letivo.
Já está provado que a investigação contínua sobre o que acontece na sala de aula guarda relação direta com o progresso acadêmico. Ocorre, antes de tudo, porque tal acompanhamento permite mapear as boas práticas, nas quais os professores devem se mirar – e ainda escancara os problemas sob uma ótica bastante realista. Resume a especialista Maria Helena Guimarães: "Monitorar a sala de aula é um avanço, à medida que ajuda a entender, na minúcia, as razões para a ineficácia". Não é de hoje que países da OCDE (organização que reúne os mais ricos) investem nessas incursões à escola. Os americanos chegam a filmar as aulas. O material é até submetido aos professores, que são confrontados com suas falhas e insucessos. Das visitas que fez a escolas nos Estados Unidos, o pedagogo Doug Lemov depreendeu algo que a breve experiência brasileira já sinaliza: "Os professores perdem tempo demais com assuntos irrelevantes e se revelam incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital".
Numa manifestação de flagrante corporativismo, os professores brasileiros chegaram a se insurgir contra a presença dos avaliadores dentro da sala de aula. Em Pernambuco, o sindicato rotulou a prática de "patrulhamento" e "repressão". Note-se que são os próprios professores que preferem passar ao largo daquilo que a experiência – e agora as pesquisas – prova ser crucial: conhecer a fundo a sala de aula. Treinados pelo Banco Mundial, os técnicos já se puseram a colher informações valiosas. Afirma a secretária de educação do Rio de Janeiro, Claudia Costin: "Pode-se dizer que o cruzamento das avaliações oficiais com um panorama tão detalhado da sala de aula revelará nossas fragilidades como nunca antes". Nesse sentido, os cronômetros são um necessário passo para o Brasil deixar a zona do mau ensino.

3 comentários:

  1. Eu concordo com a cronometragem, desde que ela também seja feita com outros servidores públicos, começando pelos deputados estaduais e federais, que faltam bastante e não são descontados, além de seus aspones e todo e qualquer servidor público.

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  2. Essa jornalista idiota e a imbecil secretária de educação do Rio de Janeiro deveriam experimentar um dia numa sala de aula da rede público antes de publicar comentário rasteiro e sem fundamentação. Desde quando um cronômetro é um instrumento de avaliação pedagógica? Em que ponto o cronômetro irá melhorar a qualidade do ensino? E as condições de trabalho e de vida dos alunos e professores não contam?
    Mas, não é estranho tal matéria surgir justamente na revista VEJA.

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  3. Se cronometrar as atividades em sala de aula é um meio de identificação dos motivos da ineficácia do ensino público, também o é a revisão das práticas políticas voltadas à educação. Um exemplo disso é o total desrespeito ás leis que a rege, como por exemplo o quantitativo de alunos por turma, a valorização profissional, e as boas condições de trabalho.

    Este tipo de reportagem serve para desviar o foco do problema, como bem disse a amiga Albênia. Os problemas da ineficácia do ensino público, como todos nós sabemos, não se restringe apenas à prática docente.

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