Trechos da entrevista
ADUNEB - Na sua pesquisa, a senhora parte do seguinte questionamento: “É possível identificar dimensões alienantes do trabalho docente, mesmo considerando que a sua função é a emancipação das capacidades humanas? E conclui afirmando que a alienação do trabalho docente se configura com a transformação do trabalho intelectual em mercadoria. Como se dá esse processo de alienação?
Denise Lemos – Na pesquisa, identifiquei que a Universidade e o Ensino Superior estão submetidos à mesma lógica da reestruturação produtiva que se deu no mundo do trabalho, dentro das empresas. Fragmentação do conhecimento, limitação da capacidade de decisão, flexibilização dos contratos de trabalho, fortalecimento do ensino à distancia, prestação de serviços à empresas, enfim, o conhecimento tratado como mercadoria. O professor, no centro desse processo, convive com uma série de contradições no cotidiano do seu trabalho. O professor, por exemplo, é contratado pra ensinar, mas ele não aprende a ensinar, além do que prefere dedicar-se à pesquisa porque dá mais visibilidade e status na vida universitária. O professor é treinado para pesquisa, no entanto, para pesquisar é preciso competir pelo financiamento dos projetos. É necessário, ainda, publicar ou é descredenciado da pós-graduação. Por outro lado, a pesquisa vem acompanhada de uma burocracia administrativa, o que leva o professor a assumir também o papel de técnico administrativo, sem falar nos casos em que ele exerce funções de coordenação e participação em comissões e bancas. Com essa sobrecarga não sobra tempo para o lazer; o fim de semana é corrigindo prova, atualizando emails, escrevendo ou preenchendo algum formulário. A conseqüência é o adoecimento devido ao intenso ritmo de trabalho e ainda é responsabilizado pela crise da universidade.
Todos os níveis institucionais exercem controle sobre a sua vida na academia. O professor se encontra no centro da contradição da crise universitária no momento em que se percebe com plena autonomia e, por outro lado, não percebe os mecanismos crescentes de controle institucional, configurando a alienação do trabalho. Umas das conseqüências desse controle é a perda progressiva da autonomia docente sobre o seu objeto de trabalho, o fazer acadêmico. Perda da autonomia como pesquisador, como coordenador administrativo ao depender de diversas instâncias para deliberação, e perda de autonomia como docente, uma vez que, muitos professores acabam se dedicando às áreas onde existe um maior volume de recursos financeiros e não às áreas que efetivamente gostariam de atuar.
ADUNEB – E essa alienação se dá também pelo fato do professor não reconhecer essa falta de autonomia em relação ao seu trabalho?
Denise Lemos – Exatamente. Inclusive, alguns autores colocam que a alienação mais significativa é quando o indivíduo não tem autonomia e não percebe que não a tem, como é o caso dos docentes. Muitos professores entrevistados na minha tese consideravam que gozavam de autonomia no desenvolvimento do seu trabalho.
(Ver entrevista completa no site www.conlutas.org.br)
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