A filosofia grega está seriamente ameaçada pela estratégia política de Eduardo Campos. A Grécia, berço da civilização ocidental, produziu uma das mais ricas e cuidadosas mitologias da História humana e ainda hoje seus personagens passeiam pelo imaginário popular. Eduardo Campos quer igualar-se aos pensadores da Antiguidade e deixar sua marca como o criador de mitos do Terceiro Milênio.
O primeiro mito surgiu ainda na época da campanha eleitoral. O discurso previa uma nova era para os servidores estaduais, principalmente, os da educação. A valorização do profissional era a palavra de ordem e as promessas de uma carreira profissional promissora fizeram os servidores acreditarem num governo pretensamente popular. Bastaram alguns meses de governo para a máscara cair e o professorado finalmente descobrir quem era Eduardo Campos. Logo na primeira greve, ele colocou os trabalhadores na mira da justiça, cortou salários, e após 52 dias de paralização deu uma ridículo aumento de 5%, o mais vergonhoso já recebido.
O segundo mito foi criado recentemente após os resultados do último concurso, onde 97% dos incritos foram literalmente massacrados por uma absurda avaliação que mais parecia prova de mestrado ou de doutorado, mas que na verdade havia sido dirigida para concluintes de licenciaturas. Convencionou-se dizer que a causa da problemática educação em Pernambuco era o baixo nível do professorado, que havia sido reprovado, como se essas pessoas já ensinassem na rede há muito tempo... O bode expiatório de toda a falência do sistema educacional do Estado de Pernambuco ficou sendo o professor. E o governo usou e abusou deste discurso, de forma sistemática e midiática. O resultado disso foi mais uma vez a desvalorização de nossa classe perante a sociedade.
O terceiro mito saiu esta semana com o anúncio da antecipação do piso salarial nacional para os docentes. Os jornais e a mídia em geral fizeram coro ao dizer que agora sim o professor vai ser bem remunerado, que o governo acertou em apostar na educação como uma de suas "prioridades". De miserável, o professor passou à ser considerado uma espécie de novo rico, com seus polpudos mil e tantos reais que o governo vai pagar! (imagine o que vai ter de ladrão de olho em professor em dia de pagamento...). Na verdade, o aumento real, pelo menos para a maioria dos professores, não passará de cem a cento e cinquenta reais, levando-se em consideração que com o piso salarial estabelecido, as nossas gratificações serão literalmente cortadas e aquele abono educador que era pago em outubro definitivamente suprimido. Difícil acesso, quinquênios, pó-de-giz tudo isso será uma página virada no contracheque do professorado.
Nem Sócrates, Platão ou Aristóteles seriam capazes de imaginar mitos dessa natureza, de uma estratégia ímpar, capaz de colocar toda a opinião pública contra o professorado. Afinal, os professores agora não tem do que reclamar: a escola tem livros, os alunos ganharam a farda, o governo paga bem, então a educação vai melhorar e viva Eduardo Campos. Pelo menos, em matéria de mitologia, o governo Eduardo Campos tem dado boas lições. Professores de filosofia que se cuidem, podem perder o emprego para o nosso atual governador, se ele continuar criando mitos dessa maneira.
* O autor é historiador, professor, escritor; membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista.