Com um método já aplicado em países de bom ensino,
o Brasil começa a investigar o dia a dia nas escolas
Roberta de Abreu Lima
Fotos Eduardo Martino/Documentography e Istockphoto/RF |
Controle do tempo Escola municipal no Rio de Janeiro: os cronômetros vão ajudar a entender as causas da evidente ineficácia na sala de aula |
As avaliações oficiais para medir o nível do ensino no Brasil têm se prestado bem ao propósito de lançar luz sobre os grandes problemas da educação – mas não fornecem resposta a uma questão básica, que se faz necessária diante da sucessão de resultados tão ruins: por que, afinal, as aulas não funcionam? Muito já se fala disso com base em impressões e teoria, mas só agora o dia a dia de escolas brasileiras começa a ser descortinado por meio de um rigoroso método científico, tal como ocorre em países de melhor ensino. Munidos de cronômetros, os especialistas se plantam no fundo da sala não apenas para observar, mas também para registrar, sistematicamente, como o tempo de aula é despendido. Tais profissionais, em geral das próprias redes de ensino, já percorreram 400 escolas públicas no país, entre Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro. Em Minas, primeiro estado a adotar o método, em 2009, os cronômetros expuseram um fato espantoso: com aulas monótonas baseadas na velha lousa, um terço do tempo se esvai com a indisciplina e a desatenção dos alunos. Equivale a 56 dias inteiros perdidos num só ano letivo.
Já está provado que a investigação contínua sobre o que acontece na sala de aula guarda relação direta com o progresso acadêmico. Ocorre, antes de tudo, porque tal acompanhamento permite mapear as boas práticas, nas quais os professores devem se mirar – e ainda escancara os problemas sob uma ótica bastante realista. Resume a especialista Maria Helena Guimarães: "Monitorar a sala de aula é um avanço, à medida que ajuda a entender, na minúcia, as razões para a ineficácia". Não é de hoje que países da OCDE (organização que reúne os mais ricos) investem nessas incursões à escola. Os americanos chegam a filmar as aulas. O material é até submetido aos professores, que são confrontados com suas falhas e insucessos. Das visitas que fez a escolas nos Estados Unidos, o pedagogo Doug Lemov depreendeu algo que a breve experiência brasileira já sinaliza: "Os professores perdem tempo demais com assuntos irrelevantes e se revelam incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital".
Numa manifestação de flagrante corporativismo, os professores brasileiros chegaram a se insurgir contra a presença dos avaliadores dentro da sala de aula. Em Pernambuco, o sindicato rotulou a prática de "patrulhamento" e "repressão". Note-se que são os próprios professores que preferem passar ao largo daquilo que a experiência – e agora as pesquisas – prova ser crucial: conhecer a fundo a sala de aula. Treinados pelo Banco Mundial, os técnicos já se puseram a colher informações valiosas. Afirma a secretária de educação do Rio de Janeiro, Claudia Costin: "Pode-se dizer que o cruzamento das avaliações oficiais com um panorama tão detalhado da sala de aula revelará nossas fragilidades como nunca antes". Nesse sentido, os cronômetros são um necessário passo para o Brasil deixar a zona do mau ensino.
É o caos!
ResponderExcluirEm vez de gastarem dinheiro cronometrando os trabalhos em sala de aula, deveriam sim contratar profissionais de apoio pedagógico, estruturar as escolar, cumprir a lei que estipula o número de alunos por turma. Mais de 80% das minhas turmas possuem mais de cinqüenta alunos matriculados. É um absurdo. Imaginem anotar a frequência dessas turmas diariamente?
ResponderExcluirA meu ver uma idéia desse tipo em PE é piada de muito mau gosto!!!
Que tal pagarem o que nos devem pelo trabalho importantíssimo que realizamos todos os dias nas escolas públicas de nosso país?
ResponderExcluirEm vez disso ficam de blá blá blá!!!O principal problema da educação no Brasil é o salário pago ao professor, isto os teóricos do MEC não abordam.
Quem está financiando a matéria?
ResponderExcluirVou cronometrar também o tempo que levo trabalhando em casa para depois cobrar por essa carga-horária de serviço que presto sem receber nenhum centavo!
ResponderExcluirEu concordo com a cronometragem, desde que ela também seja feita com os deputados estaduais, que faltam muito e chegam atrasados, com os secretários de Edumal, com os delegados, médicos, plantonistas, enfermeiros, cargos comissionados, etc, pois todos eles também trabalham para o povo, assim como nós, e também são responsáveis pelo desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida do povo...mas só fiscalizar o professor, vejo isso como mais uma perseguição e tentativa de querer transferir para nós a responsabilidade de melhorar a qualidade de ensino, como se fosse a quantidade de tempo de conteúdo o único método de ensino...que tipo de pedagogia é essa?
ResponderExcluirPelo que percebo, os governantes querem transferir a culpa pela má qualidade da educação pública no país para os professores. Eles querem que nós façamos mágica porqque só assim para darmos aulas interessantes e produtivas todos os dias do ano letivo sem, ao menos, termos estrutura, material, apoio, capacitações, tempo (já que a maioria dos professores tem que trabalhar e 2 ou 3 escolas diferentes) e também sem ter nosso trabalho valorizado tanto pelos governantes quanto pelos nossos próprios alunos.
ResponderExcluirSão só cobranças e punições em cima dos professores.Cada vez me convenço mais de que a tragédia na educação é um mal e um próposito necessário (para os governos, é claro).
ResponderExcluirAulas diferentes custam dinheiro e o nosso é muito curto para sobrar e comprar materiais para prepararmos aulas mais atrativas. Por que não pagam o salário que um professor merece para estimulá-lo para dar aula e não estudar as outras matérias para fazer concurso e mudar de profissão,pois, é isto que estou vendo tanto comigo como com os meus colegas professores."Todos tentando migrar para outra profissão, buscando melhores salários e valorização nossa com profissionais".
ResponderExcluirQuerem jogar a culpa de tudo nas costas dos professores. Quer dizer que perdemos muito tempo escrevendo no quadro e controlando indiciplina. Como é possível fazer uma aula "interessante" se os alunos são aprovados automoticamente e não temos o apoio da família, que é tão responsável quanto nós no processo de educação. No dia em que tivermos para cada sala um datashow, o número correto de alunos por turma fica até possível evitar esse tipo de "perda de tempo". Para se cobrar é preciso dar condições.
ResponderExcluirLi recentemente a matéria da jornalista Roberta Abreu (Veja,23/06/10)sobre 'aulas cronometradas". Pelo teor da matéria fica claro que a jornalista nada entende de educação. Precisaria a mesma passar um dia numa escola pública da rede estadual (por exemplo em Pernambuco)e ver o que a acontece. Salas de aulas quentes, fétidas e caindo aos pedaços comportam cerca de 50 alunos em média, professores são obrigados a preencher diários de classe e fazer chamadas sob pena de responder processo perante o Ministério Público, alunos indisciplinados impedem o bom andamento da aula, excursões e aulas extra-classe são bancadas à base de cotas feitas entre alunos e professores, bibliotecas são entregues às mãos dos alunos e outros colaboradores 'amigos da escola'(não há pessoal responsável por este setor na maioria delas). E ainda: os professores de Pernambuco recebem o pior salário do Brasil, e recebem programas ditados pelos técnicos do governo, não participam das propostas educacionais.O governo não precisa de cronômetro para saber porque o sistema de ensino não vem dando certo. Aliás quem precisa de cronômetros são os professores de Educação Física que utilizam recursos próprios para poder ter um.
ResponderExcluir(Mandei pra VEJA)
Por que todas as matérias sobre educação que saem na mídia sempre mostram essas salas de aula superequipadas e bem organizadas. Gostaria que a foto da reportagem fosse feita com qualquer uma das salas de aula da minha escola.
ResponderExcluirEstou cansada de sermos responsáveis por todas as mazelas sociais. Gostaria que essas pessoas que nos atribui o fracasso da educação viessem trabalhar nas condições em que trabalhamos e ainda com o pior salário do Brasil. Infelizmente, investimento na carreira demanda tempo e dinheiro, mas se os tivesse mudaria de profissão. Não aguento esse massagre!
ResponderExcluirO que temos são professores doentes por conta da profissão, com síndromes, depressões, câncer... Que tal a jornalista experimentar uma dessas salas de aula lotadas de alunos agressivos e indisciplinados? Seria interessante para sua dieta suar bastante nas salas pequenas e quentes, com seus ventiladores barulhentos. Talvez isso fizesse com que ela, sim, passasse a produzir matérias de qualidade, baseada em fatos reais!!! Cadê a sensibilidade que todo jornalista precisa ter? Os leitores também estão cheios de estímulos para ler matérias importantes, verdadeiras, que ajude a sociedade a melhorar!!!
ResponderExcluir... Quem vai cronometrar o tempo que leva para merenda escolar chegar e crianças nao precisarem comer lanche estragado; para os professores receberem um salario digno; para as escolas terem recursos financeiros, de multimidia, materiais, livros, entre outros, para ter condiçoes de ofertar uma aula rica e estimuladora; enfim, quem vai cronometrar o tempo para o povo brasileiro abrir os olhos e ver que chega dessa politicagem barata, chega de eleger policicos safados que se fazem de santinho em período de eleiçao. Concordo com o que falou nosso colega Indignado, e digo mais, nao sou contra cronometrar ou filmar aulas, acho até, que isso nos ajudaria a vermos certos erros e corrigirmos,aprimorarmos mais nossas aulas, planejarmos melhor... mas acho que este procedimento deve ser feito a todos os profissionais do nosso País responsaveis por promover desenvolvimento, cultura, saude e bem-estar a populaçao. Todos devem ser avaliados e cronometrados e que esse tempo de brincar de fazer, de brincar de faz de conta em muitas profissões acabe.
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