por José Ricardo de Souza*
15 de outubro. É o nosso dia. Parabéns meu caro colega professor. Eu também faço parte desta estranha confraria de sujeitos que pensam em mudar o mundo através do acesso ao conhecimento e ao saber. Sou como você amigo professor, que também trabalha em duas ou mais escolas, que sacrifica seus dias de folga para preparar aulas ou corrigir provas e trabalhos, que tenta dar o melhor de si em sala de aula, mas que nem sempre é devidamente reconhecido por isto. Hoje é dia de reflexão, porque comemoração mesmo, pouco temos a celebrar (a não ser o fato de que com os míseros níqueis que nos pagam ainda conseguimos nos manter vivos...). A escola é nosso grande laboratório. Sabemos que dela podem surgir novas e vivificantes experiências. Ou se preferir, considere-a como uma grande oficina, onde professores são os artífices do conhecimento que ali se produz, reproduz e conduz a novos horizontes. Que linda é nossa utopia, embora não passe de uma fantasia para os tecnocratas de plantão.
A gente faz o que acredita, porque acredita no que faz. A educação não é para nós professores apenas um meio de sobrevivência, mas sim um instrumento de mudança social, o único, aliás, para centenas de pessoas que foram excluídas do sistema capitalista. A nossa condição de professores não faz de nós donos do saber, nem senhores do conhecimento. Somos todos aprendizes, pois como dizia o escritor Guimarães Rosa, “mestre não é apenas quem ensina, mas quem de repente também aprende”. E aprendemos que sempre somos culpados pelas mazelas das nossas escolas. Não tem a quem culpar ? Condenem o professor. Não tem a quem criticar ? Ora, o professor é quem está errado, é quem não sabe ensinar, etc... Será que não tem uma fatia deste bolo de expiações para os alunos, para os pais, para a sociedade, para os governantes ???? Por que jogam tudo sobre a gente como se fossemos responsáveis pelo caos em que transformam o ensino no Brasil ?
Professor é aquele que fez do verbo professar uma profissão e vive em procissão de escola para escola, onde santo é o livro nosso de cada dia, o peso do andor é ensinar muito e o aluno (em sua maioria) não quer aprender nada, e a crença é a esperança de que a educação pode transformar as pessoas. Não é questão de vocação apenas, é de paixão mesmo, sim, pois é "preciso ter garra, é preciso ter gana sempre", como canta Milton Nascimento. Ser professor já foi uma honra, hoje é uma vergonha, porque fomos abatidos, combalidos, massacrados, humilhados, pisados, combatidos, exauridos, jogados na lata do lixo da história porque ousamos mudar a sociedade! Pobre professor, nem santo padroeiro tem... Os motoristas se viram com São Cristovão, os médicos com São Lucas, os músicos com Santa Cecília, e nós professores ? Quem vai nos livrar dos baixos salários, dos pais de alunos que querem que seu filhinho seja aprovado de todo jeito, dos diretores e coordenadores que sempre jogam a culpa do fracasso escolar na gente, dos alunos indisciplinados que transformam a sala de aula num prefácio do inferno ????
Meus caros amigos e também colegas professores, aqui fica um desafio para todos nós. Professem que educar é uma arte e transformar o mundo pelo saber é uma necessidade de nossa civilização. Professem que os baixos salários não vão nos tirar o fôlego, nem a capacidade de lutar pela justiça. Professem que nosso compromisso é por uma escola de qualidade, não por uma escola que seja mera fábrica de diplomas a serviço da mediocridade humana. Professem que além de professores, queremos ser e seremos educadores em essência e plenitude. Se em cada livro da vida de cada educando que passa pelas nossas salas de aula houver uma página onde figure nosso nome, teremos enfim a certeza que a nossa tarefa foi bem cumprida. Parabéns professores. E a quem interessar em aprender a ensinar, fica o convite: seja bem-vindo a nossa estranha confraria...
* O autor é historiador, professor da rede pública estadual de ensino, escritor; membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista.
É bem verdade tudo que você registrou,quando o aluno não aprende a culpa é sempre nossa.Quando ele adquire conhecimentos satisfatórios, é visto como autodidata,nem precisa de professor.Mas,o que nos fortalece é que,muitas vezes são os próprios alunos que reconhecem o nosso trabalho e esforço por uma educação de qualidade.
ResponderExcluirQuanto a falta de padroeiro(a),que tal Nossa Senhora das Dores? Ou do Perpétuo Socorro?
Será que estas, já atendem a outras categorias?????
Belo texto!
ResponderExcluirMas essa idéia de mudar o mundo é um tanto perigosa...
Albênia, Santo Expedito, Santa Rita de Cássia e São Judas Tadeu, mas talvez nem os três juntos dêem jeito.
ResponderExcluirPara auxiliar o professor em sua luta diária trabalhando muito, ganhado pouco e sendo poucas vezes reconhecido por seus méritos, será necessário um batalhão de santos e anjos. Que Deus diga amém e um dia as coisas passem a melhorar para o nosso lado!!!
ResponderExcluirParabéns carops colegas vocacionados!
Que as forças do bem sempre nos iluminem na luta!!!