domingo, 1 de junho de 2008

Campanha salarial 2008 – Sintepe – Entre manobras e mentiras a direção tenta enganar a categoria

Profº Felipe Gallindo


Na última quarta-feira, 28 de maio, os professores que estavam presentes à assembléia realizada na quadra do IEP, e que presenciaram a mesma até o seu revoltante desfecho, tiveram a oportunidade de verem a que ponto chegou a degenerescência burocrática da direção cutista do Sintepe. Para a categoria, o fato da atual diretoria se tornar porta-voz do governo estadual não deve ser visto como algo novo. Basta recordarmos a campanha salarial do ano passado, quando ela procurou de todos os meios sabotar a disposição de luta dos professores, curvando-se a ameaça de demissão por justa causa apregoada pelo governo de “Frente Popular” do “socialista” Eduardo Campos. Governo esse que os partidos da direção do Sintepe, PT e PC do B, fazem parte. Mas voltemos a assembléia, crônica de uma fraude oportunista e autoritária. Vejamos.
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Na entrada da quadra do IEP, recebíamos o boletim do Sintepe com a tabela referente à antecipação do piso salarial. A partir de então qualquer discussão sobre a limitada pauta de reivindicações ficava comprometida pelos valores oferecidos pelo governo. A própria composição do boletim não questionava os valores apresentados, pelo contrário, mostrava-os como uma conquista da categoria, e como única alternativa para a categoria. O Sintepe aceitava-a integralmente, não oferecia nenhuma contraproposta.
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Logo no início da assembléia, no ponto de informes, ocorreu algo, inédito, que, acredito, poucos perceberam. A primeira fala da assembléia não foi de um professor, mas de uma representante de uma rede local de farmácias (?!?), que fazia propaganda de seus serviços (?!?). Realmente a atual direção do Sintepe abraça a proposta do governo de gestão empresarial na educação ! Mas não ficou apenas nisso. Os representantes do movimento estudantil secundarista, ARES e UMES,foram impedidos de se pronunciarem, declarando o seu apoio a nossa luta. Os estudantes, nosso aliados históricos em tantas causas, só foram citados pela mesa diretora dos trabalhos. Que direção combativa é essa que impede a fala do movimento estudantil e permite a propaganda capitalista ?
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Ainda no ponto de informes, um dos diretores, que faz parte do Fórum estadual dos servidores, destacou dois pontos que merecem ser lembrados. O primeiro é que a proposta do governo de que dispunha de um determinado montante para negociar com os servidores foi vista pelo conjunto das categorias como uma manobra do governo para colocar uma categoria contra a outra. Em segundo lugar, o Fórum apontou como indicativo que, depois do anúncio do governo no dia 30/05, do percentual de reajuste do funcionalismo público estadual, as categorias deveriam realizar suas respectivas assembléias até o dia 04/05. Não nos esqueçamos desse dois pontos. Iremos retomá-los adiante.
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No decorrer das falas dos diretores do Sintepe, podemos observar alguns eixos :
  • a) Toda nossa luta salarial estava resumida a implantação do Piso Salarial Nacional. Nenhum deles, em nenhum momento, falou em perdas salariais, ou em defasagem dos salários. Na campanha salarial do ano passado ainda se falava em perdas salariais, que estavam em torno de 45% nos últimos oito anos. Colocavam isso porque esse índice se referia ao governo Jarbas. Em se tratando de Eduardo Campos a memória dessas perdas foi “deletada”, pois não convém ao grupo de partidos que está no poder, PSB, PT e PC do B. Algumas pessoas usavam uma camiseta vermelha com a seguinte inscrição – “Nosso grito é pelo piso”. Como vemos, de antemão a questão salarial, para a direção, era direcionada nesse sentido. E dela eles não saíram. Pelo contrário, criaram o discurso falso de que a proposta do governo era uma conquista da categoria. Omitiram que a antecipação prometida pelo governo para setembro, não respeitava o fato de que a nossa data base é o dia 1º de junho. Igualmente omitiram que ao aceitarmos o piso em setembro, abdicamos do índice de reajuste em 1º de junho ! Vamos esperar quatro meses até vermos se realmente esse piso será implantado. E até lá, com a volta da inflação, devido principalmente a alta do preço dos alimentos, como vamos ficar ?
  • b) Quem critica o governo Eduardo Campos tem saudades do governo Jarbas Vasconcelos. Uma intervenção ousou pronunciar essa sandice ! Ela tenta desqualificar os pronunciamentos críticos, tanto os feito ao governo como aos discípulos de Eduardo Campos, ou seja, a direção do Sintepe. Tal intervenção mascara a profunda identidade existente entre os dois governos na sua visão comum de uma educação gerida de forma empresarial, como por exemplo, os Centros de Referência em parceria com a iniciativa privada (projeto de privatização do ensino), criados na gestão anterior, e que foram ampliados no atual governo. Tal fala só pode ser feita por aqueles que, diferentemente da nossa categoria, devem estar lucrando com esse governo !
  • c) O governo Eduardo Campos não é inimigo dos trabalhadores. Nas diversas intervenções, em nenhum momento, o governo foi criticado pela direção do Sintepe. É impressionante a desfaçatez do sindicato em alinhar-se automaticamente com o governo estadual. Cada proposta do mesmo é anunciada como se fosse a única alternativa possível. O governo está sempre fazendo o melhor que pode pela educação. Prova disso é que quando questionado sobre os valores pagos pela contratação pelo governo de uma consultoria empresarial para gerir a educação em Pernambuco, o mesmo respondeu que a mesma seria sem nenhum custo, e tal resposta não foi em nenhum momento questionada pela direção do sindicato. A promessa da implantação do piso parece ser colocada como uma dádiva desse governo “popular” ! É preciso analisar esse quadro de apoio explícito a Eduardo Campos dentro de um contexto maior, que englobe as alianças partidárias a nível nacional e local. A base do governo Lula no Congresso Nacional em Brasília é composta entre outras forças políticas, obviamente pelo PT, pelo PSB e pelo PC do B. Do ponto de vista regional esta mesma aliança se reproduz no governo Eduardo Campos e na Prefeitura do Recife e de Olinda. O melhor exemplo desse processo é a indicação do presidente estadual do PSB para o cargo de vice de João da Costa (PT) para as eleições municipais do Recife. Como quem está junto nos governos (municipal, estadual e federal),que também estarão juntos nos próximos palanques,podem estar separados na vida sindical ? Nas mesas de negociação não temos adversários, patrões e empregados, temos membros de uma mesma coligação política.
  • d) A omissão de informações e a falta de articulação política são características marcantes das práticas do Sintepe. Durante a fala do presidente do sindicato sobre a proposta de antecipação do piso, apenas um dos elementos salariais da pauta de reivindicações que, caso a proposta fosse aceita pela categoria, seria perdido, foi dito, o abono-educador. Não foi colocado que como aceite da proposta governamental duas reivindicações seriam de antemão descartadas, ou seja, a luta pela implantação da vale-alimentação para os trabalhadores em educação e a extensão do 14º salário para toda a categoria, não apenas para aquelas escolas que atingissem as metas definidas pela empresa de consultoria empresarial, INDG, Instituto de Desenvolvimento Gerencial, contratada pelo governo no ano passado, para traçar os rumos da Secretaria de Educação, dentro de uma visão de gestão empresarial !!! Para a atual direção do Sintepe os trabalhadores em educação de Pernambuco estão fora da realidade local e nacional. Vejamos. A aceitação passiva da antecipação do piso nacional desarticulou uma maior possibilidade de enfrentamento do conjunto dos servidores estaduais diante da proposta de 5% de reajuste salarial para o funcionalismo estadual. A nossa categoria é, historicamente, uma das mais combativas em Pernambuco. Uma proposta diferenciada do governo para nós representa a força da greve do ano passado. Apesar de reprimida pelo governo e sabotada pela direção do Sintepe, ela foi forte o suficiente para fazer com que o governo temesse nossa mobilização. Por isso o empenho do Sintepe em defender a antecipação do piso como única forma de reajuste salarial, e que uma possível radicalização do nosso movimento, como a que foi proposta pela oposição, com a antecipação do piso para junho e a decretação do estado de greve, fosse a porta aberta para uma unificação do movimento dos servidores estaduais contra o arrocho salarial imposto por Eduardo Campos. Também parece que Pernambuco está isolado do Brasil. Veja se no site do Sintepe saem notícias de greves de professores estaduais de outras unidades da federação. Nenhuma notícia ! Quem sabia que os professores do Piauí e do Pará estão em greve há semanas ? E que reivindicam as perdas salariais, com índices entre 30 e 40%? E, principalmente, que enfrentam governos do PT ? E que as bases passam a frente das direções da CUT ? Não é preciso dizer que essas lutas tem a participação, junto as bases, da CONLUTAS (Coordenação Nacional de Lutas).

A Manobra da Mesa – Com o prolongamento das intervenções e o conseqüente esvaziamento da quadra do IEP, foi encaminhada a única votação em toda assembléia ! Pasmem ! A campanha salarial 2008 teve apenas quatro assembléias ! E foi decidida em uma única votação ! E a direção da mesa, numa visível manobra a fim de aproveitar o esvaziamento da assembléia, não encaminhou as propostas da oposição, que eram de que a discussão do piso nacional não era o principal eixo, mas sim a recomposição das perdas salariais; que a antecipação desse piso deveria ser feita na nossa data base, em junho; que a luta pela manutenção do abono educador, pela implantação do vale-alimentação e pela extensão do 14º salário para toda a categoria deveriam ser mantidas na pauta de reivindicações, pois a campanha salarial não deveria terminar naquele momento. Pelo contrário, deveríamos decretar estado de greve, visando verdadeiras conquistas, e não aceitarmos uma promessa de um governo que usa a educação visivelmente como trampolim eleitoral ! Também a questão da manutenção das eleições diretas para diretores de escolas não foi votada. Ficou para ser debatida numa futura comissão formada pelo governo e Sintepe. Não foi discutida a evidente intenção do governo em acabar com a democracia nas escolas estaduais. Tudo isso não foi votado ! Não houveram defesas e réplicas sobre essas questões. Como um rolo compressor, a mesa encaminhou uma única votação sobre a proposta do governo e ponto final ! Encerrada a votação, fim da assembléia, e a grande maioria dos professores presentes saiu sem entender direito quanto teria de reajuste em setembro.

E a mesa encerrou dizendo que a educação de Pernambuco saíra ganhando. Só se for uma educação baseada na omissão, na subserviência, e na mentira !

É preciso construir um movimento de oposição forte e consciente de que a luta pelos direitos da nossa categoria, é luta por uma educação melhor para a grande maioria da população de Pernambuco. E ela não deve se esgotar só visando às próximas eleições do Sintepe. Ela deve ser feita no dia a dia da vida profissional. Hoje e sempre.

2 comentários:

  1. Além de Piauí e do Pará, também há greve em Roraima. Detalhe: Roraima já possui um dos melhores salários do Brasil!

    O Sintepe realmente é extremamente moderado ou fiel ao governo!

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  2. Concordo contigo Felipe. Precisamos nos mobilizar de verdade. Essa vergonha de enganação não deve continuar, senão estaremos perdidos. A categoria deve estar sempre atenta e não se deixar enganar pelas falácias e manobras de nossos representantes sindicais, pois os mesmos não estão nos representando, visto as ações por eles tomadas. Outro dado significativo é o fato de que boa parte de nossa categoria está muito decepcionada, pois aguarda há anos que as coisas melhorem, muitos já se aposentaram e nada aconteceu, pior, tudo piorou com o passar dos anos e governos.É preciso que esses amigos de profissão voltem para a luta e exijam melhorias e ações concretas!!!!!! Juntos conseguiremos algo, separados apenas barulho!!!!!!Aquele grupo pequeno não pode manchar a nossa bandeira de luta que é legítima e deve estar sempre hastiada!!!!!!

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