quarta-feira, 11 de junho de 2008

Ensino de má qualidade? Qual a origem?

Recentemente o Governo do Estado de Pernambuco realizou um concurso público para o preenchimento de vagas para professores de sua rede (quadro crônico). Resultado: desastre!! 90% ou mais dos candidatos inscritos não alcançaram a média mínima exigida pelo órgão organizador da seleção. Diante da Secretaria de Educação de Pernambuco, Governo do Estado e imprensa que na ocasião noticiaram e comentaram a seleção, faço uma reflexão caros leitores.
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Foi dito na imprensa falada: “...é por isso que a educação escolar em nosso Estado está em último lugar! ...Nossos professores precisam estudar e se preparar melhor para mudar esse quadro...”. Discordo do comentário destacado feito pela jornalista Sra Graça Araújo em seu programa diário. E a discordância não significa necessariamente rebeldia. Apenas pontos de vista diferenciados. Tentarei fazer uma análise sob a minha ótica de tal concurso baseado no que ouvi, vi e senti em toda essa polêmica.
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Trabalho na rede pública de ensino há exatos 23 anos. Sou do quadro de ativos e jamais saí da sala de aula e nem pretendo fazê-lo, pois, adoro dar aulas, tenho apreço pelo meu alunado e tento fazer o melhor por eles. Pois bem, conversei com colegas que se submeteram à seleção. Eles eram em sua grande maioria de mini-contratos e também já concursados, que queriam um segundo contrato para ‘aumentar a renda’. Colhi alguns comentários dos mesmos: “...que prova difícil...” ...acho que o que derrubou muita gente foi o critério de nota mínima...” ...no edital não havia bibliografia...todo concurso que se preze há bibliografia no edital...” ...achei o tempo de prova muito curto. 80 questões penosas em 3 horas...”. Talvez o leitor comente: Que nada!! Isso é desculpa para justificar o mal desempenho! Pode até ser, caro leitor. Mas é uma justificativa dos 90% dos candidatos inscritos. Dado obtido em conversas que tive e ouvi em assembléia de professores e na própria escola que trabalho. Ora, será que 90% dos inscritos são despreparados? São sim! Foram reprovados! Então há algo errado vocês não acham? Qual a origem desse despreparo? Há muitas variantes além dos citados acima pelos meus colegas. Vou ater-me em um que acho que é e sempre será crucial no processo escolar: A formação de professores nas universidades e faculdades. Quem está formando nossos futuros professores?
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Dado relevante 1: A maioria dos professores que se submeteram à seleção desse concurso tem formação acadêmica após a minha. Formei-me em 1984. O quadro de professores que se renova atualmente nas escolas se formaram por volta dos anos 90 ou 2000. E isso não significa que se minha geração tivesse se submetido à seleção seria aprovada. É bem provável que levássemos bomba também. Aliás, percebi que pouquíssimos professores da ‘antiga’ se submeteram a esse concurso. Motivo maior: impregnado de desilusões, anestesiados por Governos sem compromisso com a educação.
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Quem está formando tais professores “despreparados”? Respondo em forma de prova bem objetiva: a) universidades públicas e privadas b) os mestres e doutores dessas universidades c) as 2 alternativas anteriores estão corretas Resposta: letra c. Os mestres e doutores dessas universidades têm um salário bastante razoável mas, não justo o suficiente ou digno de um formador de ‘cabeças pensantes’. No entanto, não é motivo suficiente para não tentar mudar essas cabeças pensantes, futuros professores. E a mudança deve começar pelo currículo escolar. Em minha época dava-se muita ênfase às disciplinas técnicas nos cursos de licenciatura plena. Cito exemplo em minha área: cálculo diferencial integral 1, 2, 3, ...algébra linear, análise matemática e por aí vai. Conhecimentos que nunca usei com meus alunos. Penso que essa mentalidade ainda persiste em nossas universidades, principalmente nas públicas, onde se matriculam 20 alunos e se formam, 2 ou 3. E esses poucos privilegiados chegam às nossas escolas sem a didática adequada. Ora, como repassar os conteúdos do ensino fundamental ou do ensino médio se não foram instruídos nas universidades? Refiro-me a uma mudança na grade curricular tantos nos cursos de licenciatura como na grade curricular das escolas. Para que nosso alunado tenha prazer em aprender, os conteúdos deverão ser significativos. Que faça sentido para eles. Coitados de nossos alunos que por vezes perguntam: “professor, onde vou usar esse assunto em minha vida”? E nós respondemos: ...você vai precisar para passar no vestibular, depois você joga fora! Aliás, joga fora não, deleta! Isso mesmo, os conteúdos deverão ser significativos. Um currículo não apenas técnico, mas, humanista. Que promova um País mais consciente de seus deveres e direitos. Que preparem nossos alunos para novos desafios. Que incentivem à pesquisa em todas as áreas de ensino. Os outros conteúdos deverão ser riscados. Onde há aplicabilidade de números complexos? Como tornar essa aula prazerosa? Determinante de 3ª, 4ª e nº ordem...pôxa vida! Na 7ª série, frações algébricas, equações literais. Isso é um terror para o aluno que não tem habilidade em matemática e mesmo para aquele que tem, é chato.
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A mudança, repito, tem que começar nas universidades. A universidade tem que prestar um melhor serviço à comunidade na qual ela está inserida. A partir daí, ela partirá para projetos maiores. A universidade tem que ser chamada para debater os problemas de seu Estado com mais eficiência, com o poder de votar o melhor projeto. É assim que se constrói uma nação vencedora. Não basta apenas dar um bom salário. É preciso mudar essas cabeças pensantes. Aliás, bons salários não significam bons profissionais. Os caros leitores concordam? Querem um exemplo? Os nossos políticos.
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Dado relevante 2. O caro leitor deve estar pensando também: A culpa não é só das universidades públicas. Em toda esquina há uma faculdade privada abrindo as portas. Concordo em parte. Tais faculdades aproveitam o espaço físico de uma escola de grande porte e oferece cursos superiores. Muitas vezes é a própria escola a financiadora. Porém, tais faculdades privadas oferecem cursos fora da licenciatura. São poucas as faculdades privadas que oferecem cursos na área de licenciatura. Se não me engano há uma em Olinda e outra em Vitória. Então, o referencial em licenciatura ainda é a Federal e a Rural. O que acontece então com os professores que saem dessas universidades públicas? Estão sendo ensinados numa nova linha de pensamento?
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Dado relevante 3. Desde a sua implantação, em 1998, o ENEM (exame nacional do ensino médio) tem sido o referencial em avaliação no País. Avaliações que são bem elaboradas. São questões contextualizadas. Pois bem, será que nossas universidades ensinam aos nossos professores a elaborarem uma prova nesse molde? Trabalho com professores bem mais novos do que eu em idade e formação acadêmica, e nada vi de novidade. Logo, não foram ensinados nessa linha de pensamento. Continuam tradicionalistas. As provas do ENEM têm mais sentido para nossos alunos e professores. É a matemática aplicada. É a física aplicada. É a química aplicada. Muitas dessas questões são resolvidas com um raciocínio dedutivo, sem fórmulas prontas e decoradas. Onde a memorização de um conteúdo ou fórmula não é valorizada.
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Dado relevante 4. A luz no fim do túnel brilha. Mas, não uma luz em todas as direções. As editoras através de seus renomados professores escritores, nos têm presenteado com uma vasta literatura que segue a linha do ENEM. Por sinal, é a partir dessa literatura e de uma revista mensal na qual sou assinante, é que tento elaborar minhas avaliações. Não aprendi em universidade. Aprendi porque pesquiso. Tenho compromisso. Quero mudanças profundas no sistema educacional. A formação de nossos professores em nossas universidades continua omissa. Os mestres e doutores de nossas universidades parecem não dar importância às mudanças. Seremos então, caros leitores, os únicos culpados pelo insucesso escolar em nosso Estado? Apontarei em outra oportunidade mais variantes desse insucesso escolar.


Profº Sérgio A. César – professor de matemática da rede pública de PE
sergioacesar@yahoo.com.br

2 comentários:

  1. Companheiro,ultimamente somos os únicos culpados por todos os desastres que ocorrem na educação.
    O governo juntamente com a mídia, acusam-nos e jogam a população contra os trabalhadores em educação.
    Precisamos reverter esse quadro,
    exigir um mínimo de respeito, cobrar nossos direitos e denunciar o caos em que vivem as escolas públicas do Estado.
    As direções omitem-se perante todo esse desmantelo, querem manter as aparências e seus cargos, caso contrário (se não conseguirem cumprir as metas impostas pelo governo)serão automaticamente substituídas. Eleição direta é coisa do passado. Vai pro ralo a democracia escolar.
    Não é vigiando e punindo professores e entregando a educação nas mãos de empresários do setor privado que conseguiremos uma escola de qualidade.

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  2. "Avaliações que são bem elaboradas."

    As provas do ENEM são um lixo.

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