segunda-feira, 10 de março de 2008

Bico ajuda professor a viver

Matéria publicada no Jornal do Commercio em 09/03/2008. Cidades p. 02
Margarida Azevedo





José Cardoso de Azevedo e Silva, taxista. Peronivalda Montelares, vendedora de roupas. Maria Agnalda Cunha, corretora. Todos são também professores. Mas como o salário que ganham para ensinar na rede pública não dá para pagar as contas no fim do mês, eles complementam a renda adotando outra ocupação. O bico é uma realidade cada vez mais comum em Pernambuco, que tem o pior salário pago a docentes da educação básica no Brasil, conforme levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Uducacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC). Os profissionais pernambucanos ganham em média R$ 831 mensais, valor quatro vezes menor do que recebem os do Distrito Federal (R$ 3.371), que tem a remuneração mais alta do País.

A implantação de um piso salarial nacional, no valor de R$ 950, é uma das chances de melhoria na vida daqueles que passam o dia nas salas de aula.

"Não acredito na implantação desse piso", diz Cardoso, professor de matemática há quase três décadas da Escola Estadual Marcelino Champagnat, localizada em Tejipió, Zona Oeste de Recife. Por mês, ele ganha R$ 1.270. Com os descontos, fica em R$ 964, valor repassado quase integralemnte para a pensão dos filhos. "Uma vez meu ex-sogro me viu aperreado com a falta de dinheiro. Propôs que eu rodasse com o táxi dele. Desde então, não parei mais. Nos horários em que não estou na escola, pego passageiros nas ruas", relata Cardoso. Por dia, o professor-taxista calcula que consegue pelo menos R$ 40, já tirando o gasto com o combustível. "Não penso em deixar de ensinar pois gosto muito da docência. Mas não dá para manter família apenas com o que ganho como professor."

No final do mês, Agnalda tem que escolher quais contas não serão pagas. "Faço um sorteio para decidir quem vai ficar sem receber. Como sempre estou devendo a alguém, meu nome normalmente vai para o SPC", relata Agnalda, que ganha pouco menos de R$ 1 mil. Para completar os dois salários que recebe (é professora da Escola Estadual Nestor Gomes, em Vila Rica), ela dá aulas particulares no intervalo entre um emprego e outro. Também agencia pessoas interessadas em empréstimos, quando ganha um pequeno percentual sobre o valor emprestado. Viúva e mãe de três filhos, mal tem tempo para se alimentar e cuidar da saúde.

Já Peronivalda, colega de Cardoso, vende roupas para complementar o salário de R$ 711. como Agnalda, diz que está sempre devendo a alguém. "Pode perguntar aos bancos qual é o profissional que mais pede empréstimos. Nós professores atuamos com muito sacrifício e sofrimento, mas não temos o reconhecimento que merecemos. Só mesmo o amor à sala de aula para nos manter atuando".

3 comentários:

  1. Será que a direção do SINTEPE leu essa matéria (JC,Cidades,09/03)?
    Será que sentiram-se indignados como nós?

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. NOTA: Exclui o comentário acima pois se tratava de um link para um vírus.

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