Por Gildemarks Costa e Silva, professor da UFPE
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A greve dos professores terminou e, apesar do esforço da categoria em mobilizar a sociedade, parece que, especialmente na classe média pernambucana, o resultado não foi satisfatório. A questão que se coloca é por que a classe média de Pernambuco pouco se importa, aparentemente, com as demandas dos professores das escolas públicas? O descaso com a luta dos professores parece ser levado ao extremo quando um jornalista de um dos principais veículos de comunicação do estado escreve: “povo ingrato, esses professores”.
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As condições objetivas para as demandas dos professores são evidentes, basta observar as condições precárias das escolas estaduais, bem como os próprios salários dos professores que, quando comparados aos salários pagos em outras partes do país, são visivelmente baixos (em recente viagem a um congresso em Ribeirão Preto, conversava com um professor de Brasília que me dizia ter por salário R$ 3.500,00; quando comentei que os professores em Pernambuco ainda lutavam pelo piso salarial, ele respondeu: que absurdo! Que horror!). De fato, ser professor não é “bico”, nem complemento de renda, mas profissão que exige salário adequado para que o exercício dela se dê de forma satisfatória.
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A questão é saber por que a nossa classe média não fica horrorizada com a situação das escolas pernambucanas, com a situação deplorável do salário dos professores da rede pública estadual? Uma possibilidade de resposta é que a nossa classe média não se identifica com o problema. Ela pensa que o fato de não ter filhos na escola pública implica em não ter nada a ver com a luta por melhoria nas condições de trabalho e de salários dos professores da rede estadual.
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É aí que reside o engano de nossa classe média: ela considera que o percurso escolar é, essencialmente, um percurso individual. A nossa classe média considera que poderá ter uma vida decente por, supostamente, ter condições de pagar escolas particulares para seus filhos. Só que as pesquisas mostram claramente que o percurso escolar mais do que um caminho individual é social. Uma sociedade melhor possui indivíduos melhores. Somos em muito aquilo que nosso contexto oferece, essa é uma das lições mais básicas da pedagogia.
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Pensar a trajetória escolar como social significa dizer que a sociedade pernambucana só poderá evoluir no seu conjunto. Assim, a existência de um sistema educacional público de qualidade terá repercussões na qualidade de ensino no Estado de Pernambuco como um todo. Na medida em que as escolas públicas se tornam melhores, com melhores condições de trabalho, com profissionais com remuneração adequada, as escolas particulares serão desafiadas a um ensino de melhor qualidade. Na medida em que tivermos alunos de escolas públicas com educação melhor, a sociedade como todo irá colher frutos desse processo e não apenas na qualidade de sua mão de obra, como pensam alguns, mas na qualidade de vida da sociedade pernambucana.
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Assim, já está mais do que no momento de percebermos que a luta dos professores das escolas públicas estaduais não é apenas deles. É uma luta da sociedade pernambucana como um todo.
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O professor Gildemarks Costa e Silva edita o blog Paralelas, que debate a educação no Brasil
A greve dos professores terminou e, apesar do esforço da categoria em mobilizar a sociedade, parece que, especialmente na classe média pernambucana, o resultado não foi satisfatório. A questão que se coloca é por que a classe média de Pernambuco pouco se importa, aparentemente, com as demandas dos professores das escolas públicas? O descaso com a luta dos professores parece ser levado ao extremo quando um jornalista de um dos principais veículos de comunicação do estado escreve: “povo ingrato, esses professores”.
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As condições objetivas para as demandas dos professores são evidentes, basta observar as condições precárias das escolas estaduais, bem como os próprios salários dos professores que, quando comparados aos salários pagos em outras partes do país, são visivelmente baixos (em recente viagem a um congresso em Ribeirão Preto, conversava com um professor de Brasília que me dizia ter por salário R$ 3.500,00; quando comentei que os professores em Pernambuco ainda lutavam pelo piso salarial, ele respondeu: que absurdo! Que horror!). De fato, ser professor não é “bico”, nem complemento de renda, mas profissão que exige salário adequado para que o exercício dela se dê de forma satisfatória.
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A questão é saber por que a nossa classe média não fica horrorizada com a situação das escolas pernambucanas, com a situação deplorável do salário dos professores da rede pública estadual? Uma possibilidade de resposta é que a nossa classe média não se identifica com o problema. Ela pensa que o fato de não ter filhos na escola pública implica em não ter nada a ver com a luta por melhoria nas condições de trabalho e de salários dos professores da rede estadual.
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É aí que reside o engano de nossa classe média: ela considera que o percurso escolar é, essencialmente, um percurso individual. A nossa classe média considera que poderá ter uma vida decente por, supostamente, ter condições de pagar escolas particulares para seus filhos. Só que as pesquisas mostram claramente que o percurso escolar mais do que um caminho individual é social. Uma sociedade melhor possui indivíduos melhores. Somos em muito aquilo que nosso contexto oferece, essa é uma das lições mais básicas da pedagogia.
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Pensar a trajetória escolar como social significa dizer que a sociedade pernambucana só poderá evoluir no seu conjunto. Assim, a existência de um sistema educacional público de qualidade terá repercussões na qualidade de ensino no Estado de Pernambuco como um todo. Na medida em que as escolas públicas se tornam melhores, com melhores condições de trabalho, com profissionais com remuneração adequada, as escolas particulares serão desafiadas a um ensino de melhor qualidade. Na medida em que tivermos alunos de escolas públicas com educação melhor, a sociedade como todo irá colher frutos desse processo e não apenas na qualidade de sua mão de obra, como pensam alguns, mas na qualidade de vida da sociedade pernambucana.
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Assim, já está mais do que no momento de percebermos que a luta dos professores das escolas públicas estaduais não é apenas deles. É uma luta da sociedade pernambucana como um todo.
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O professor Gildemarks Costa e Silva edita o blog Paralelas, que debate a educação no Brasil
Olá, bom dia.
ResponderExcluirAgradeço pelo artigo "A classe média pernambucana e a greve dos professores", postado neste site. Estou entre os professores que participaram desta última greve e que também tiveram os salários cortados pelo governo socialista. Para piorar as coisas, além de não ter o meu dinheiro de volta, outros profissionais temporários serão e foram chamados para dar aulas no meu lugar.
Por aí é possível compreender como andam as coisas na educação em Pernambuco. E olhe que trabalho em uma escola em Abreu e Lima, cuja extensão localiza-se dentro de um presídio para menores infratores (CASE-FUNASE-ABREU E LIMA).
A classe "merdia" pernambucana não saiu da senzala e nem entrou na CASA GRANDE. Com todo respeito as sardinhas, a classe "merdia" 'come sardinha e arrota caviar'. Assume essa postura: "isso não é comigo; isso não me pertence! Que nojo!"
ResponderExcluirFalta muiiiiiiiiito mais muiiiiito ainda para chegarmos a ser uma NAÇÃO.
Tenho 25 anos de exercício no magistério e meu salário bruto (titulação '02 pós', vencimento, quinquenios) é R$ 1.819,89. Não precisa dizer mais nada.
Parbéns pelo artigo, e vou além, baseado no grande professor Milton Santos, a classe média no Brasil luta por privilégios e não por direitos, por isto a sua alienação política diante da tirania neonazifascista travestida de socialismo ( socialismo hitelerista ) do nosso governado e grande DITADOR EDUARDO MUSSOLONI.
ResponderExcluirNosso principal obstáculo é lutar contra os governos que conseguiram propagandear o menosprezo por uma categoria, A EDUCAÇÃO. Quando resolvemos lançar mão do último recurso, a greve não somente a classe média nos ataca, as classes c e d também MESMO SEM PERCEBER QUE LUTAMOS POR ELES, OS DESVALIDOS ALUNOS. A coisa ruim da EDUCAÇÃO PUBLICA parece atingir APENAS aos docentes, prega O GOVERNO. pIOR TEM ALUNO QUE VAI NESSA NA INGENUIDADE DE SE CONTENTAR COM POUCO OFERTADO.
ResponderExcluirAno passado cheguei a provocar na escola um olhar crítico indagando o que meus alunos achavam da UNIDADE DE ENSINO, pasmei quando disseram acho boa. Perguntei boa como?
Falta tudo na escola, a biblioteca não funciona, não tem laboratório de informática, as portas estão desgastadas e há muitas salas sem as mesmas, não há ventiladores, aqui parece um forno e vcs acham isso bom?
Pasmem. Me responderam tem professores de todas as disciplinas. Imagine isso constiuir um diferencial? Tal é a debilidade de nossas unidades de ensino que o fato de ter professores para todas as disciplinas faz de algumas escola um lugar bom.
Volta e meia nós acabamos fazendo a diferença, em meio ao caos quem segura as pontas somos nós e o governo ainda vem nos humilhar, é demais!!!
O desconto em nosso salário, pagará o professor substituto, um profissional, por sinal tão "comprometido" com a educação quanto o governo do Estado. Enquanto estavamos na batalha por melhores salários, nossos substitutos divertiam-se com nossos alunos assistindo filmes, fazendo cópias e contando historinhas.
ResponderExcluirO substituto faz parte do Kit educacional.