terça-feira, 6 de maio de 2008

Fragilidade da Educação

Editorial do JC (2 de maio/2008)
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A baixa qualidade do ensino continua sendo o grande empecilho a que o nosso País conquiste rapidamente graus de desenvolvimento e progresso compatíveis com a modernidade que desejamos. Ficando apenas na América do Sul, países menores do que o Brasil, como a Argentina e o Chile, fizeram reformas educacionais no início do século passado e as sustentaram e incrementaram, e hoje colhem os frutos dessa sábia iniciativa. Os dois países levam a sério a questão do ensino público, universal e gratuito, já solucionaram o problema do analfabetismo e têm proporcionalmente muito mais consumidores de livros e outras publicações que o nosso. Aqui, o ímpeto legiferante também se faz sentir nessa área vital. Em vão. Planos e leis de diretrizes se sucedem sem dar tempo nem para se fazer uma avaliação. Sem que isso signifique nenhuma rejeição à iniciativa privada no ensino, frisamos que a opção preferencial dos governos ditatoriais pelo ensino privado significou um retrocesso de quase 200 anos à época do absolutismo.
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O ensino privado, que sempre fora sinônimo de boa qualidade no País desde os colégios dos jesuítas, tornou-se rapidamente mero negócio, com poucas exceções. Abriram-se escolas em cada esquina, em geral com pouca preocupação didática e pedagógica, inclusive no setor de ensino superior. Enquanto isso, o ensino público foi perdendo o bom nível que o distinguia, com professores desprestigiados e mal pagos, instalações e materiais negligenciados, o que leva os alunos à desmotivação e conseqüente evasão. Assim, sem negarmos que haja desemprego, se percebe uma demanda não satisfeita por trabalhadores especializados. É o que estamos vendo agora, quando o aumento da procura por pessoal habilitado a trabalhar nas grandes empresas que se montam em Suape leva à criação apressada de escolas técnicas nas imediações do complexo industrial e portuário.
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Na última prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), aplicada em todo o País exatamente para avaliar a qualidade do ensino nesse nível, das 673 escolas avaliadas em 184 cidades do Estado menos de 10% delas ganharam nota igual ou superior à média nacional (51,27%), que já não é animadora. O resultado do exame permite confirmar o que observamos acima a respeito da decadência planejada do ensino público: o colégio particular pernambucano mais bem colocado somou 78,22 pontos, quase 24 a mais que o estadual com melhor colocação, que foi a Escola Professor Trajano de Mendonça (Jardim São Paulo, Recife). No ensino público, o Colégio de Aplicação da UFPE é uma exceção, estando incluído entre os melhores do País.
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Por que toda a rede pública não tem a qualidade exibida pela Trajano de Mendonça? Constata-se ali boa disciplina, corpo docente comprometido e qualificado, bom relacionamento entre a direção da escola, estudantes e seus pais, segundo explicou o diretor-adjunto à nossa repórter Margarida Azevedo. Com 1.584 alunos de ensino fundamental e médio, a escola dá uma educação especial, que inclui biblioteca e auditório para eventos maiores. Dispõe ainda laboratórios de informática e ciências, mas infelizmente sem utilização pois o Estado não qualificou professores para seu uso. Quanto à informática, cabe lembrar que existe um programa federal de distribuição de computadores para escolas de todo o Brasil, mas a maioria deles fica encaixotada e vai se deteriorando pelo motivo apontado na referida escola.
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Isso comprova, mais uma vez, nossa observação sobre a negligência generalizada dos poderes públicos (federal, estaduais, municipais) com educação, ensino, incentivo ao saber. O que não é característica só pernambucana. As escolas avaliadas na cidade de São Paulo obtiveram 54 pontos de média no Enem, somente cerca de seis pontos acima da média do nosso estado, que foi de 48,26 (a escala vai de O a 100). Vamos seguir o exemplo dado pelo Rio Grande do Sul, o melhor avaliado no Enem e o que apresenta menor distância entre a qualidade do ensino público e do privado. Das dez cidades melhor avaliadas no Enem seis são gaúchas, destacando-se São Leopoldo, no Grande Porto Alegre. A secretária de Educação daquele Estado, Mariza Abreu, explica que os investimentos públicos em educação ali são tradicionalmente valorizados.

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