por José Ricardo de Souza*
Há algumas décadas, o papel atribuído às mulheres era exclusivamente doméstico, relegando-as às funções de mãe e esposa. O tradicionalismo patriarcal impedia que as mulheres sonhassem com um emprego bem sucedido, ou em aprimorar-se, através dos estudos, sendo ainda mais difícil ocupar posições de destaque ou de liderança em alguma empresa. A lógica machista submetia a mulher a uma sub-condição de dominação e dependência em relação ao homem, que por sua vez, encarnava o estereótipo de mantenedor do lar. A ideologia dominante legitimava e justificava essa relação de dominação masculina, tomando por argumentos princípios morais (ou moralistas) e até mesmo interpretações errôneas, portanto manipuladas, de textos religiosos, como a Bíblia. Foi preciso um longo caminho, permeado por muitas lutas e dissabores, para a mulher conquistar seu espaço na sociedade, deixar de ser a "rainha do lar" e passar a ser a "princesa da sociedade".
Os movimentos feministas tiveram um papel fundamental nesse processo. Através deles, as mulheres puderam se organizar para reivindicarem seus direitos, como sempre, negados pela hegemonia masculina. Assim, paulatinamente, as mulheres puderam trabalhar, sem precisar do consentimento do marido, cursar uma universidade, escolher seus representantes, através do voto, e exercer funções antes dominadas pelos homens. É claro que nem tudo foram flores, e se houveram avanços, podemos apontar também alguns retrocessos. Nem sempre, mulheres e homens, receberam a mesma remuneração, mesmo exercendo a mesma função, havia privilégios para os homens, que recebiam a mais. Outro problema é a dupla jornada de trabalho que as mulheres acabam enfrentando, ora como trabalhadoras do lar, outra como trabalhadoras convencionais, o que na prática acaba reforçando ainda mais o papel de submissão feminina.
Infelizmente, também por influência da ideologia machista, a sociedade ainda costuma ver a mulher como um objeto de desejo e consumo sexual, atrelando sua importância a determinadas partes do corpo (nádegas, principalmente), estimulando o assédio sexual, a prostituição, o erotismo como apelo comercial, desvalorizando a mulher enquanto pessoa, na medida em que a transforma numa mercadoria descartável. Os meios de comunicação contribuem para reforçar esse tipo de visão, pois investem pesado na sexualidade vulgarizada do corpo feminino, exposto em todos os ângulos, usado para vender de carros a cigarros, e para alavancar picos de audiência. E o pior é que muitas mulheres acabam aprovando estas práticas, pois acham que, através da superexposição do corpo poderá conquistar um lugar ao sol, serem artistas, ricas e famosas.
Outro ponto que precisa ser repensando é a forma como algumas mulheres reproduzem ações masculinas apenas para reafirmar sua superioridade, o que acaba num perigoso círculo vicioso, onde erros são cometidos em nome de uma suposta liberdade, que irresponsavelmente, arrasta mulheres para os vícios, como o alcoolismo e as drogas. A posição do movimento feminista com relação ao aborto é outra coisa que carece de uma reformulação. Com a autonomia feminina veio também o desejo de ser dona do próprio corpo, numa concepção absoluta, que incluí o suposto direito de decidir pela continuidade, ou não, de uma vida intra-uterina. Nem toda liberdade é saudável, principalmente, se esta vier desacompanhada de princípios éticos.
Apesar de tudo, ainda há muito que se conquistar para as mulheres. Muitos direitos ainda são relegados a um segundo plano. É preciso mais creches para as mulheres trabalhadoras, melhor assistência à saúde feminina, garantia de proteção contra preconceitos, agressões, assédios, e outras formas de maltratar as mulheres, recuperação das mulheres marginalizadas (prostituídas, meninas de rua, presidiárias, faveladas, etc.), abertura para maior participação na liturgia e no culto de algumas Igrejas, que ainda resistem à presença feminina. Há 153 anos (8/3/1857), operárias de Nova Iorque reivindicaram direitos trabalhistas, como paridade salarial com os homens, e redução da jornada de trabalho. Como recurso extremo ocuparam uma fábrica, onde foram trancadas. Os patrões, sem nenhuma piedade, mandaram incendiar a fábrica. Todas as operárias grevistas morreram queimadas. Para relembrar o martírio dessas 129 heroínas, o Primeiro Congresso Internacional das Mulheres, realizado na Dinamarca (1810) instituiu o dia 8 de março como dia internacional da mulher.
Para finalizar este artigo, cito Dom Hélder Câmara: "Não é o homem superior à mulher, nem a mulher superior ao homem. Mas também não é certo dizer que ambos são iguais em tudo. A realidade é maior e mais bonita: a mulher possui qualidades especificamente femininas que, quando se unem às qualidades especificamente masculinas, permitem conseguir resultados maiores, mais expressivos e mais ricos que os que poderiam se alcançar, quando cada um dos dois sexos trabalha separadamente".
* O autor é historiador, professor, escritor; membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista.
Obrigadíssima Ricardo,
ResponderExcluirabração!!!