quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Oposição é obrigação!


Às vésperas de realizar sua invasão ao Iraque, George W. Bush chegou a arrotar o seguinte disparate: “quem não está do nosso lado, está do lado do terrorismo”. A partir deste raciocínio, verificamos como o reducionismo grosseiro é típico de quem não é capaz de lidar com a democracia. E esta referência ao malfadado Bush não é insólita quando fazemos uma apreciação sobre a atual situação política que marca o movimento sindical dos trabalhadores em educação da rede pública estadual em Pernambuco.

Na última assembléia da categoria (no dia 21 deste mês de agosto), a tensão entre a direção do Sintepe e a oposição se manifestou novamente e isto não é nada estranho quando divergências políticas existem. Também não é nenhuma anomalia em um debate democrático. O que é estranho é o teor de determinados discursos situacionistas, pois parte deles negam a prática legítima do embate em torno de concepções sindicais em um ambiente marcado pela democracia.

Indo além do primarismo e da superficialidade de determinados argumentos situacionistas,vale ressaltar que nem toda oposição é, necessariamente, eleitoral. Há uma oposição constituída, mas há também a noção de que as eleições para a direção do sindicato ainda estão longe. Não se faz oposição apenas diante da eminência de um pleito eleitoral e, neste sentido, a própria argumentação defensiva de quem utiliza tais discursos acabou fazendo algo que a oposição ainda não fez: lançar uma candidatura. Resumindo: há uma oposição, mas não há uma chapa! Claro que as contingências não negam a necessidade de haver uma oposição também eleitoral, mas não estamos precipitando esta situação.

A atual direção do Sintepe deveria estar plenamente amadurecida em relação às contingências próprias do exercício do poder, afinal, a consolidação desta diretoria é o resultado de um processo histórico. A gestão sindical que hora conduz nossa entidade representativa é sucessora de outras gestões que ao longo de vários anos estiveram no comando do Sintepe. Esta história construída não pode ser negada, assim como não pode ser negada de maneira leviana que contribuições valorosas e exemplos marcantes de luta fazem parte do legado deste sindicato e de suas direções através de anos, contudo, nada disso torna ilegítima a necessidade de criticar a direção do Sintepe.

A instituição do Sintepe merece ser respeitada, contudo, isto não invalida o legítimo direito de ser arregimentada uma oposição – e motivos para isso não faltam. O que os discursos anti-oposicionistas não fazem é reconhecer que a categoria pode perfeitamente manifestar sua discordância e merece total respeito por isso, afinal, a condução da atual direção propiciou os motivos para que fossem reforçadas as causas de divergências e oposição. Isto também precisa ser avaliado pela direção do Sintepe, que necessita fazer uma apreciação auto-crítica de suas estratégias. Agir desta forma é agir de maneira aberta e transparente.

Durante o ápice das tensões entre a base a direção no decorrer do último movimento grevista, as razões para as discordâncias ficaram explícitas. E não se pode atribuir apenas à oposição organizada o coro de descontentamentos, pois a espontaneidade e autonomia crítica da base merecem ser reconhecidas. A oposição tem sua existência creditada ao descontentamento e à indignação e não é restrita a um mero e pontual alinhamento partidário e se opor ao que está apresentado em termos de condução sindical é uma necessidade fundamental para o fortalecimento das lutas da categoria.

Também não fazem sentido outros argumentos vazios que apontam a oposição como oportunista, afinal, a discordância não tem hora para ser manifestada. Provavelmente a “dinastia” sindical representada pela direção do Sintepe perdeu o hábito de saber o que é enfrentar uma oposição e isto afeta também seus discursos. Mas ocorre que o hábito democrático de estabelecer uma relação dialética não foi banido de nosso contexto e nossos dirigentes classistas precisam rever suas avaliações a respeito da existência de uma oposição.

Talvez um recado esteja sendo dado: a longa perpetuação na direção sindical de um mesmo grupo já não é tão segura e confortável e possivelmente parte da base esteja saturada.

Retomando o raciocínio expresso no início, não se pode, de maneira nenhuma, recorrer a um argumento falacioso de que a oposição desarticula a possibilidade de unidade e fortalecimento da categoria. Se há, como comprovado, divergências entre a direção e muitíssimos de seus representados, estar contra a direção, não significa estar contra a categoria. Qualquer insinuação que busque a imprópria associação segundo a qual a existência de uma oposição é fator que prejudica a luta da categoria merece ser rebatida e contraditada.

Determinados apelos retóricos não cumprem com os desígnios de um debate democrático e somente servem para demonstrar um apego ao poder e a certos compromissos que escapam da esfera própria dos interesses da categoria, que é muito mais ampla que a direção do sindicato.

12 comentários:

  1. A instituição do Sintepe merece ser respeitada, pois representa os trabalhadores em educação, mas tenho minhas dúvidas quanto ao respeito que deve ser dispensado a atual direção do sindicato, porque tal direção vem constantemente desrespeitando a base da categoria através de declarações e atos espúrios e descabidos.

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  2. Texto muito bem escrito, mas "tenção" é com "s". Corrijam, por favor. Pega mal para a categoria.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Como quem fez o comentário acima não quis se identificar e dado o tom irônico do mesmo, suponho que seja um olheiro ou babão da atual direção do Sintepe.

    Caro anônimo, por favor, pegue um dicionário e veja o significado da palavra tenção...

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  5. TENÇÃO

    1 o que se pretende fazer; propósito, desígnio, intenção
    Ex.: sua t. era enfrentar o adversário
    2 objeto de especial adoração; devoção
    Ex.: era aquele o santo de sua t. particular
    3 conteúdo, assunto, tema, matéria
    Ex.: a t. de um romance
    4 Diacronismo: antigo.
    estado de hostilidade; briga; má vontade
    5 Rubrica: heráldica.
    divisa; figura nos escudos alusiva a feitos gloriosos
    6 Rubrica: termo jurídico.
    voto escrito e fundamentado que, num tribunal de segunda instância, é dado em separado pelo juiz, quando do julgamento de determinadas causas
    7 Rubrica: literatura.
    na poesia provençal, cantiga dialogada por um ou dois trovadores e na qual se discute uma questão de amor

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  6. TENSÃO


    1 qualidade, condição ou estado do que é ou está tenso
    Ex.: a t. de um cabo de aço
    2 Derivação: sentido figurado.
    estado do que ameaça romper-se
    Ex.: t. nas relações entre palestinos e israelenses
    3 Rubrica: eletricidade.
    para um circuito elétrico, diferença de potencial entre dois de seus pontos; tensão elétrica, voltagem
    4 Rubrica: física.
    força ou sistema de forças que age sobre um corpo sólido, por unidade de área, e é capaz de provocar compressão, cisalhamento ou tração
    5 Rubrica: fonética.
    fase da articulação que se caracteriza pelo reforço da atividade muscular dos órgãos bucais, com maior pressão do ar expirado [A diferença de tensão permite, em certas línguas, estabelecer a oposição de fonemas, de outro modo idênticos.]
    Obs.: cf. catástase e distensão
    6 Rubrica: medicina.
    o ato de distender ou ser distendido (diz-se esp. de músculo)
    7 Rubrica: medicina, psiquiatria.
    estado de sobrecarga física ou mental
    Ex.: o excesso de trabalho provocou-lhe grande t.
    8 Rubrica: medicina.
    pressão sangüínea
    Obs.: cf. pressão
    9 Rubrica: literatura.
    m.q. tense

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  7. Tanto um quanto outro termo ("tenção" ou "tensão") fazem parte de nosso vocabulário. E ambos fazem sentido no contexto do artigo, mas farei a advertida mudança no texto para facilitar o entendimento.

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  8. Gostaria de saber quem foi o autor do texto foi Paulo ou só foi postado por ele?

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  9. Acredito que o processo democrático é muito doloroso porque muitas vezes as opiniões divergentes podem magoar seus combatentes. Mas eu acredito no bom combate.E na democracia você tem que aceitar a opinião alheia não concordar obrigatóriamente ,mas aceitar as diferenças; a riqueza do debate são as discordâncias. Enquanto a oposição não aceitar isso vai ser muito difícil formar uma chapa consistente com chance de vencer uma eleição com um grupo tão bem articulado e organizado como este que aí está.

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  10. Comentário excluído pelo autor? como assim está havendo censura nos comentários...que é que é isso. Até a Veja publica comentários contrários a sua opinião.

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  11. Telma Virginia, eu cometi um erro e eu mesmo deletei meu comentário.

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  12. Telma, eu escrevi e postei o texto em questão. Quando não faço uma referência ao autor logo no início do texto, a autoria é minha.

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