domingo, 21 de março de 2010

Docentes do interior do Estado vivem realidades distintas

Publicado em 21.03.2010, às 10h18
Margarida Azevedo Do Jornal do Commercio

João Batista, de Santa Cruz da Baixa Verde, ganha R$ 1.392. Nove meses atrás, recebia R$ 620. Ele até trocou de moto e pretende reformar a casa. João Batista, 40 anos, e Veranice Melo, 39, são professores de escolas públicas municipais do interior do Estado. Ele, em Santa Cruz da Baixa Verde, cidade sertaneja distante 408 quilômetros de Recife. Ela, em Cortês, na Zona da Mata, a 149 quilômetros da capital pernambucana. Ambos têm mais de uma década em sala de aula. São apaixonados pela profissão. O que difere é o salário. João ganha quase o dobro de Veranice. Em Santa Cruz, o piso salarial do magistério é pago desde julho do ano passado. Com mais dinheiro no bolso, ele comprou moto nova e faz planos para o futuro. Em Cortês, o piso ainda não foi implantando. Enquanto não vira realidade, Veranice sonha com o dia em que vai sobrar R$ 50 do salário para colocar internet em casa.E você, professor, recebe o piso em sua cidade? Fale sobre a realidade do seu município em nosso Mural.A valorização do professor será um dos eixos em discussão na Conferência Nacional de Educação (Conae) que começa no próximo domingo, em Brasília, e vai até 1º de abril. A importância do evento é grande. Três mil delegados vão discutir, entre outros pontos, o piso salarial do magistério, tema de interesse de milhões de profissionais brasileiros. Ao final, a conferência elencará sugestões para a construção do Plano Nacional de Educação, que norteará as políticas públicas educacionais nos próximos 10 anos. O financiamento da educação é outro assunto que promete chamar atenção na Conae. Nele está inserido o Fundo de Manutenção da Educação Básica e de Valorização do Magistério (Fundeb), fonte importante de recursos para que governantes, sobretudo prefeitos, paguem o salário dos docentes.Santa Cruz da Baixa Verde recebeu, ano passado, cerca de R$ 2,7 milhões do Fundeb. Destinou 60%, como determina a lei, para os salários dos 116 professores. Segundo o Ministério da Educação, hoje o piso vale R$ 1.024,67 para quem tem nível médio e trabalha 200 horas por mês. No município, docente com esse perfil ganha um pouco mais, R$ 1.132,40 (a prefeitura considerou o valor defendido ano passado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, mas falta aplicar o reajuste deste ano). Para os docentes graduados, o salário é de R$ 1.302,26. É um dos maiores salários de professor do Estado, segundo levantamento feito pela Frente Parlamentar do Piso do Magistério, da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).Cortês, comparado com Santa Cruz da Baixa Verde, recebeu o dobro de dinheiro do Fundeb em 2009. Foram R$ 5,8 milhões, dos quais 68% para salários. Em 2010, a previsão é de R$ 6,1 milhões. Apesar de ganhar mais, o município paga um dos mais baixos salários para docentes em Pernambuco, também conforme o estudo feito pela Alepe. Lá, um professor com nível médio e 150 horas de trabalho recebe R$ 577,50. Com nível superior, o valor é de R$ 783,85. Um docente com especialização ganha R$ 924, valor menor do que quando o piso foi criado, em 2008 (R$ 950). “Não há um consenso sobre o real valor do piso. Mas já mandei para a Câmara de Vereadores um projeto de lei que reajusta o salário dos professores para R$ 1.024,67, seguindo cálculo do MEC . Se aprovado, será retroativo a janeiro”, garante o prefeito José Genivaldo dos Santos.Ansiosos para ver o piso valer, professores de Cortês entraram em greve no início do mês. A paralisação durou só três dias porque a Justiça os obrigou a voltar ao trabalho. O sindicato dos servidores municipais recorreu e está aguardando resposta do Judiciário. “Desde agosto do ano passado se discute a lei do piso e nada foi feito até agora. Não aceitamos R$ 1.024,67. Defendemos o valor da CNTE, R$ 1.132,40. Como a jornada é para 180 horas, se passar a proposta do prefeito, um professor em Cortês receberá R$ 921,60, abaixo de R$ 950”, diz o presidente do sindicato, Edson Lima.REDE ESTADUAL - A expectativa entre os professores da rede estadual para receber o piso do magistério é tão grande quando os das redes municipais de ensino. Quarta-feira, eles farão uma nova paralisação para pressionar o governo do Estado a pagar o piso. Houve uma rodada de negociação entre Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) e Secretaria de Administração na última quinta-feira, sem acordo. O Estado fez três propostas, todas recusadas pelos docentes, que formularam uma contraproposta, em análise pelo governo.

5 comentários:

  1. Aqui no agreste existem municipios pagando muito bem, Garanhuns estava aquem do piso mas me parece que está pagando os 950 agora.
    E se compararmos nosso salario com o de Alagoas vemos a vergonha que é o salario de Pernambuco.
    Estou esperando abrir concurso e vou morar em alagoas, ganhar um salário melhor,tentar mestrado e ganhar um adicional digno pela pós que farei.

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  2. No Blog do Jamildo o presidente do PT Estadual,Jorge Perez, disse a frase: "Por isso, não podemos concordar com a manifestação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco – SINTEPE, que em assembléia decidiu declarar o Governador Eduardo Campos “inimigo da educação”. ".
    É inaceitável que um dirigente de um partido que se diz dos Trabalhadores venha criticar o SINTEPE, não, a CATEGORIA apenas por constatar a realidade da educação pernambucana. O sr. Governador não prioriza a educação, está "pouco se lixando" para ela, aliás. Repudio a nota do sr. Jorge Perez e todos aqueles que pensam como ele.
    Quem quiser ler a matéria na íntegra: http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2010/03/22/presidente_do_pt_sai_em_defesa_do_governador_chamado_de_inimigo_da_educacao_e_critica_sindicato_dos_trabalhadores_66594.php

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. O problema de certos "partidos políticos" e alguns de seus membros é o preocupar-se consigo mesmo. O que vale para estes "senhores" é a lei de quem lhes dar vantagens: empregos a parentes, agregados, facilidades, possibilidades de ganhos futuros, entre outros.
    Fico enjoada só de ouvir as palavras deste senhor representante do PT em Pernambuco ao criticar as nossas denúncias diante do desgoverno em nosso estado .
    Boa parte deste partido está longe de representar os trabalhadores neste país!!!
    Nas eleições estaduais esta legenda está fora de cogitação, bem como seus aliados!!!

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  5. Justiça seja feita, a jornalista Margarida Azevedo costuma produzir excelentes matérias sobre educação.

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