sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Acelerando a crise

Através do "aceleramento", a Secretaria de Educação pretende diminuir as distorções idade-série, mas será que o modelo de ação do programa funcionará?


Os números relativos à educação em Pernambuco são terríveis. As causas de nosso fracasso educacional são estruturais, são relativas ao mau funcionamento e ao pouco caso que os governos fizeram do setor. Mudar a situação exige a consolidação de uma concepção de desenvolvimento do estado estritamente relacionada à educação e esta postura tem sido negligenciada nas últimas gestões e agravadas desde o governo Jarbas Vasconcelos, quando a decadência acentuou sua ação.

Hoje, o caos já está devidamente instalado e confortável diante das parcas iniciativas do governo Eduardo Campos, pois nenhuma política estrita de desenvolvimento para a educação foi apresentada. Ainda não sabemos exatamente qual a proposta concreta e quais são as metas do governo, mas vemos gestos isolados sendo apresentados como se fossem os grandes restauradores de nossa educação.

Saímos de uma greve sem avanços concretos e entramos em um processo de reposição de aulas absurdo e irresponsável. Estes são sintomas claros de que os problemas estão longe de uma solução.

Mais recentemente, os rumores em torno do projeto de correção de fluxo a ser implantado acabam contribuindo para o descrédito. As telessalas estão sendo apresentadas como se fossem a salvação aguardada para a crise que contribui para os elevados índices de reprovação, evasão e retenção de estudantes na escola por um tempo demasiado. Mas isto não é verdade.

As telessalas não são novidade e o falido “Projeto Avançar”, aplicado durante a gestão Jarbas-Mendonça, não apontou resultados válidos para motivar a insistência em adotar algo nos mesmíssimos moldes. Mas a ressurreição desta receita requentada está a caminho.

Sem promover um debate amplo sobre o projeto, a correção de fluxo à moda Fundação Roberto Marinho será novamente empregada nas escolas da rede estadual. Professores estão fazendo uma “capacitação-relâmpago” para tornarem-se habilitados a atuar como “mediadores” generalistas que presumivelmente deverão estar em condições de orientar os alunos em todas áreas do conhecimento. As turmas contarão com apenas dois desses “professores genéricos” (um trabalhando com as disciplinas exatas e biologia e outro com as humanidades e línguas) e deverão cumprir o programa de todo o ensino médio em apenas 18 meses. Como isso ocorrerá, não se sabe ao certo!

A Secretaria de Educação pretende criar números para preencher alguma prestação de contas ou manobrar os dados sobre os resultados de suas ações. Alunos fora da faixa etária própria das séries escolares concluirão o nível médio de ensino praticamente sem aulas discursivas, sem interação e sem contato com professores. A TV e os vídeos prometem cumprir as atribuições de mestres e o “mediador” será um personagem secundário do processo.

No final de tudo, os alunos serão certificados com o grau secundário, mas será que estarão plenamente habilitados com as competências esperadas em tal nível de ensino? Estarão suficientemente fundamentados para concorrer a uma vaga em universidade pública? Estarão adequadamente instruídos para encarar as exigências de um mercado de trabalho que cobra cada vez mais profundidade na formação de seus candidatos e pretendentes? Estas perguntam carecem de respostas.

A aceleração de fluxo é uma medida paliativa e superficial que não atinge a raiz dos problemas da educação. Ela não impede o retardamento de fluxo em sua origem, pois não diz respeito aos aspectos estruturadores dos graves problemas experimentados do decorrer da aprendizagem.

Mais uma vez, a superficialidade será empregada. Mas os resultados, como não poderiam deixar de ser, também terão como característica a própria superficialidade.

Veremos alunos que passaram pela aceleração correndo contra o tempo depois, pois aceleraram no sentido inverso de uma educação que lhes assegurasse um mínimo de qualidade e resultados efetivos.
Esta aceleração é um atraso.

3 comentários:

  1. Nos últimos dias ando encolerizado de tanto ver descalabros na escola onde leciono, mas essa aqui "Estarão suficientemente fundamentados para concorrer a uma vaga em universidade pública?" foi cômica se não fosse trágica, e olhe que o vestibular não é lá tudo isso não.

    E como sempre os alunos pagam o pato...

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  2. Preocupa-me imensamente ver um projeto (telessala)como esse ser aos poucos empurrado de goela abaixo e aceito sem questionamento algum pelas direções "democráticas" das nossas escolas.Qual a penalidade para a Unidade que não aceitar a proposta?Porque estão correndo contra o tempo para "arrumarem"as escolas?E nós professores não seremos consultados?Um projeto que distorce todo um conceito de "edu
    cação de qualidade"vem para "corrigir"distorção idade-série.Dá prá entender?

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  3. Por que Acelera (telessalas) se já temos o Supletivo? Por que não investir no Supletivo como a PB faz com provas todos os meses? Afinal, perguntar não ofende. No curso supletivo é respeitado a habilitação de cada professor. Do jeito que a coisa está, estão querendo extinguir as licenciaturas. Afinal neste Brasil não existe profissão mais desvalorizada,conseqüentemente, mais uma vez perdemos o bonde da história.

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