domingo, 19 de agosto de 2007

INDISCIPLINA: FALHA DO PROFESSOR OU CRISE DE AUTORIDADE?


por José Ricardo de Souza
Historiador, professor da rede pública estadual de ensino, escritor; membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista


A indisciplina tem-se constituído num gravíssimo problema, presente em qualquer Escola (seja ela pública ou privada), decorrente do mau, não seria exagero dizer, péssimo, comportamento de certos alunos que acabam por prejudicar não apenas colegas e professores, mas a Escola em geral, partindo até mesmo para atos do mais puro vandalismo (o aumento das bancas danificadas está aí para confirmar isto). Os casos de mau comportamento são tão freqüentes que chegam a pôr em xeque alguns princípios e conceitos que regem a prática pedagógica, como por exemplo, esse liberalismo desenfreado defendido por alguns psicólogos e pedagogos, com o argumento falácio de construir um alunado consciente de seus direitos, sem que ninguém destaque os seus deveres. Como punir, de forma exemplar tais indivíduos ? Tirar ponto ou atribuir conceitos negativos, conversar com os pais, suspendê-los ? Infelizmente, a "Pedagogia Moderna" condena os velhos mecanismos de controle do comportamento do alunado, mas não apresenta nenhuma proposta para substituí-los. O resultado não poderia ser outro senão o caos instituído em nossas salas de aula. E os professores ? Não serão os culpados por tal desordem, uma vez que são responsáveis pelo andamento de suas turmas ?

É muito fácil distribuir culpas. Difícil mesmo, é encaminhar soluções. Uma análise mais profunda do problema revela que no fundo, somos todos vítimas de um processo caracterizado por três elementos: falta de educação doméstica (uma preparação na família), transição para o terceiro milênio (provocando uma crise de valores) e a falta de credibilidade nas instituições (gerando uma crise de autoridade). Na família, que teoricamente deveria ser a primeira Escola do indivíduo, quase não há espaços para o diálogo franco e aberto, alargando o abismo entre pais e filhos. Sem um embasamento da família, a criança e o adolescente chegam à Escola totalmente sem noções básicas, e mínimas de respeito aos colegas e aos professores. Na sociedade, caem valores, princípios e tabus sem a preocupação de elaborar novos referenciais, resultando numa inevitável crise existencial, levando-nos a um relativismo moral onde tudo é permitido, e o que não é permitido, passa a ser tolerado. Os atos pouco éticos de algumas lideranças (de qualquer instituição social) levam-nos a questionar a legitimidade ou não dos poderes constituídos e impostos sobre os grupos não dominantes. A título de exemplo, podemos lembrar os inúmeros casos de corrupção estampados em machetes de jornais e TV. Por conseguinte, vivemos numa sociedade conturbada, onde "tudo o que é sólido se desmancha no ar", e assim, vamos caindo ... De maduros, não. De podre, mesmo!

Antes de perseguir alunos indisciplinados, ou criticar professores "sem moral", é preciso discutir o papel da Escola na sociedade pós-moderna, em plena revolução tecnológica. A Escola vem dando respostas antiquadas para novas realidades, construídas dialeticamente para um novo momento histórico de crise e transformação. Estamos perplexos diante de tal processo. É preciso repensar as nossas posturas como educadores e encaminhar novas propostas e modelos para reestruturar a Escola, de forma que possibilite manter a ordem necessária para o bom andamento do processo pedagógico, afinal com a indisciplina todos perdem, principalmente o alunado. Infelizmente, pouco podemos esperar de uma juventude alienada, sem referenciais nem ideologias capazes de fazê-lo pensar e refletir sobre os seus atos insensatos. A indisciplina na Escola não começa na sala de aula, onde o aluno não reconhece a autoridade do professor, ela vem de toda uma estrutura decadente, no qual a família perdeu o dialogo, as instituições perderam o sentido, e o povo perdeu o bonde da História.

Um comentário:

  1. Difício é encontrar o caminho para o diálogo pedagógico dentro de um sistema onde o professorado é tratado com desrespeito, sem direito de opinar acerca das questóes educacionais. Um sistema onde a educação é planejada por pessoas que não sabem como funciona uma sala de aula de verdade.

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