sábado, 25 de agosto de 2007

Uma "Travessia" duvidosa



Dados da própria Secretaria de Educação indicam que a defasagem idade-série em Pernambuco é intensa. Dos 369.753 alunos matriculados no ensino médio, 259.709 deles estão fora da faixa adequada para as séries que estão cursando, representando cerca de 70% do total de matrículas deste nível de ensino.

Os números por si já denunciam uma série de que problemas, pois sinalizam que o percurso do aluno até a conclusão da educação escolar é marcada por deficiências. A solução apresentada pela Secretaria de Educação para solucionar este problema tem como princípio o imediatismo e a superficialidade. E esta pantomima tem nome: “Travessia” – um belo nome para um programa falho que maquia os dados referentes à efetivação da educação pública.

O governo Eduardo Campos está implementando este projeto à toque de caixa, pois em pleno segundo semestre está implantando as telessalas em tom de improviso característico de uma política educacional realizada sem critério nem aprofundamento. O secretário de educação, Danilo Cabral, anunciou que “a palavra-chave desta gestão é resultado”, contudo, o “resultado” deste programa é uma farsa.

O secretário afirmou também: “Estamos apostando num projeto que conhecemos a eficácia. Não vamos fazer da Educação de Pernambuco nenhum laboratório”... mas os dados que comprovam a “eficácia” das telessalas jamais foram apresentados aos professores que efetivamente cumprem os propósitos de educar a população pernambucana usuária do sistema de ensino oficial.

Estas propostas educacionais, via de regra, são desempenhadas através de convênios com instituições a exemplo da Fundação Roberto Marinho e são custeadas por verbas públicas. Não é comum haver uma prévia discussão sobre tais projetos mirabolantes com o conjunto dos professores e estas preciosidades do malabarismo educacional são geradas em gabinetes e também em gabinetes são decididas as formas de imposição destes projetos. Os professores são vistos como meros executores acríticos de toda e qualquer decisão tomada por um conjunto restrito de “iluminados” que não convivem com o dia-a-dia das salas de aula.

Gerente geral de Educação e Implementação da Fundação Roberto Marinho, Vilma Guimarães afirmou que ”já são 27 mil telessalas em todo o país e cerca de cinco milhões de alunos já concluíram os estudos”, contudo estes dados são apenas quantitativos. Por acaso, dados qualitativos sobre o desempenho operado pelos estudantes que se submeteram a este tipo de programa também são tão vistosos? Estes alunos estão sendo aprovados, por exemplo, em vestibulares de universidades públicas?

Para variar, dados vagos acabam servindo de parâmetro para a implantação de programas educacionais que serão futuramente abandonados. Será que inventar projetos miraculosos para “solucionar” os problemas da educação brasileira é alguma novidade? Qualquer governo inventa programas e projetos pretensiosos que não passam pela prova da eficiência, pois os problemas e nós da educação perduram de maneira resistente.

Determinados discursos deixam escapar suas arestas e uma reveladora afirmação da representante da Fundação Roberto Marinho é exemplo disso. A senhora Vilma Guimarães afirmou que ”ao contrário do ensino médio regular, os alunos do Travessia, vão receber todo o material didático por disciplina, o que não acontece nas escolas normais”, mas esta afirmação levanta mais questionamentos: por que será que as escolas normais e o ensino regular não possuem a dita estrutura didática de um projeto como este? Por que não há material didático para os alunos que freqüentam o ensino médio regular? Por que somente projetos milionários executados com a “parceria” de organizações como a Fundação Roberto Marinho podem supostamente oferecer as condições “adequadas” para os estudantes? Por que os investimentos não são feitos diretamente no ensino regular para melhorar seus resultados e condições? Os alunos que estão dentro da faixa etária continuarão recebendo um ensino médio precário, pois, afinal estarão fora do “Travessia”?

Como se vê, certas afirmações descortinam um vasto universo de contradições.

8 comentários:

  1. Nesse tipo de projeto o grande "beneficio" fica com as fundações, que levam os milhões dop bolso da população. Pagamos para ser enganados. Isso não é educação é farsa.E pensar que essa "idéia brilhante" vem de um governo dito socialista.É piada.

    ResponderExcluir
  2. TRAVESSIA para onde? Onde um cidadão poderá chegar contando com um ensino "faz de conta"? Poderá concorrer, em igualdade de condições, no mercado de trabalho, concursos públicos, vestibulares? A TRAVESSIA poderá até ser fácil para os estudantes, porém há o risco dos mesmos "morrerem na praia".

    ResponderExcluir
  3. Dentro de uma mesma Unidade Escolar os alunos da "TELE-TRAVESSIA" terão um tratamento especial.O que dirão os alunos que encontaram-se em salas superlotadas, quentes e sem livros para estudar? Onde fica a inclusão educacional?

    ResponderExcluir
  4. Respondendo as perguntas do autor do texto: porque nossos políticos são todos, todos mesmo uns bandidos fdp.
    E acho que seja muito difícil, muito mesmo, encontrar algum que não tenha pelo menos uma das duas qualificações dadas.

    "vem de um governo dito socialista"

    Não acredito que vocês acreditavam que um aristocrata poderia ser realmente socialista.

    "TRAVESSIA para onde?"

    Travessia direto para o reino a ignorância.

    "O que dirão os alunos que encontaram-se em salas superlotadas, quentes e sem livros para estudar?"

    O que eu disse a turma quando a diretora da escola onde ensino pediu para entrar na sala de aula em que me encontrava e perguntar quem queria participar da telessala: na telessala vocês certamente terminarão o ensino médio sem saber de nada, ou seja, vão se formar analfabetos funcionais, aqui (no ensino normal) , não é certo que terminem o ensino médio, pois vocês já devem ter percebido que precisarão estudar muito para tal, mas pelo menos comigo vocês aprenderão alguma coisa.

    Ou seja, talvez eles tenham o orgulho de dizer que não farão parte do rol dos analfabetos funcionais.

    ResponderExcluir
  5. Amigos do A ALTERNATIVA,

    A única forma de lutar contra esse absurdo do projeto enganar- telesala, e a solidão de uma TV,é colocar os professores e alunos na rua, a MOBILIZAÇÃO!! isso, obviamente, garante o acesso a informação à população, que está anestesiada em relação a problemas voltados à Educação e gera um certo desgaste a um (Des)Governo que não vai priorizar a Educação de verdade e com a conivência da classe dirigente sindical ou pouca ação por parte deles. Os professores sabem da realidade dos alunos e estes não terão paciência para serem brócolis (Educação Vegetativae de Mentira); não entendeu? Coloca a fita de novo e por aí vai, isso é um descalabro.

    Carlos José

    ResponderExcluir
  6. A mobilização seria certamente uma saída, mas vejamos o que nos ocorreu recentemente: durante a greve, foi proposta a ampliação da mobilização em defesa da educação conclamando a comunidade, os pais de alunos e os próprios estudantes para engrossar a luta. A direção do Sintepe defendeu contra esta proposta, que foi derrotada. Parece que nossa própria categoria é ainda tímida em relação a estabelecer uma luta ampliada com mobilização comunitária. Durante a greve nossa proposta de realizar uma aula pública no Pátio do Carmo também foi rebatida.

    Temos que estabelecer uma cultura de mobilização, pois estamos agindo isolados.

    ResponderExcluir
  7. Nesse tipo de projeto os professores saem revoltados, eles não tem voz são apenass papagaios e se não se adaptarem ao sistema cai fora. Resultado: os professores que não trabalharam suas turmas foram fechadas e seus contratos foram renovados altomaticamente.
    E os coitadinhos " manda quem pode obedece quem tem juizo" que lutaram para manter sua turmas suando a bersa resultado: tiveram que passar por nova seleção. Na boa isso é uma enganação tanto para os professores como para com os alunos. A escola aprova e a sociedade reprova.

    ResponderExcluir
  8. A cordenadora do projeto Travessia da GREE Arcoverde a mais conhecida por AUREA. Eu não sei como pode uma pessoa tão pequena, ridicula, baixa , sem ética pode assumir um cargo na educação. Todos os professores do programa não a suporta, mais como eu ja havia dito manda quem pode e obedece quem tem juizo. muitos ficam calados.
    Ela não pode encontrar nenhum professor ou coordenador que fala de mal um para o outro.

    ResponderExcluir