sexta-feira, 3 de agosto de 2007

uma greve (inesperada) dos empobrecidos

Por Severino Vicente da Silva
Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco


Escutava o noticiário em uma emissora de rádio sobre a greve dos médicos na Rede Pública de Saúde. Os médicos que trabalham na rede estadual de saúde de Pernambuco estão entregando os cargos, os empregos: eles entendem que o Estado não lhes paga o suficiente para o serviço que devem prestar à sociedade.

Esta foi a grande surpresa do atual governador: os médicos, esquecendo o juramento que fazem de sempre atender o doente, estão se recusando a trabalhar por um valor tão baixo, quase desprezível, dos salários. O mesmo está acontecendo com a rede pública de educação, pois os professores, contrariando a orientação dos líderes sindicais atrelados aos governos estadual e federal, continuam paralisando.

As greves nas redes públicas, dizem os governantes, prejudicam principalmente os pobres. Com esse discurso eles têm conquistado a adesão envegonhada dos médicos e dos professores (também tem os policiais) que ficam com complexo de culpa se os pobres não forem atendidos. Esse argumento é também dito aos professores pelos diretores das escolas particulares. Mas parece que esta lógica está sendo superada.

É que os médicos da rede pública recebem mal porque eles atendem os pobres. Os médicos podem ter vários empregos, ter vários salários e trabalharem cansados para atender os pobres. Os funcionários do legislativo, do judiciário e os possuidores de cargos que servem diretamente aos senadores, deputados, governadores, ministros e presidentes, esses têm salários melhores. Eles não fazem greves. Não se ouve falar em greve dos funcionários do legislativos. Se ouviu uma vez falar de greve dos juízes, mas isso foi porque a falta de vergonha lhes acometeu o juízo, mas logo eles viram que estavam dando um tiro no pé e voltaram a "trabalhar".

Bem o que acontece agora é que os médicos estão ficando, eles mesmos, pobres e já estão com dificuldade de pagar o plano de saúde deles, daí a greve. Ou fazem greve ou serão atendidos pelo SUS. Começa o governo a ter problema porque não são apenas os pobres - esses que ficam calados, com medo de que o Senhor lhe prenda e os torture e os mate de fome - que estão sendo atingindos pela política de destruição dos serviços que o Estado deve oferecer à população.

Médicos, em grande parte são filhos dos setores mais bem aquinhoados, alguns até mesmo filhos de juízes e irmãos de deputados. Enquanto não aconteceu a discussão dessa prática do nepotismo, dáva-se um jeito. Mas agora está ficando cada vez mais difícil continuar espoliando os pobres sem atingir esses setores da classe média. Nunca é damais esquecer que a luta contra a tortura ditatorial começou quando os meganhas passaram a prender jovens jornalistas, filhos de criadores de gado, padres, filhos de advogados e quejandos..

O povo unido, unido às pequenas dores de uma pequena parte dos poderosos, jamais será vencido. É assim que tem sido.



Nossos agradecimentos ao professor Biu Vicente pelo apoio e pela cortesia de ter cedido este texto para publicação. O texto foi originalmente postado no blog do professor: http://www.biuvicente.blogspot.com/

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