terça-feira, 7 de agosto de 2007

NOVOS PRETOS, NOVAS SENZALAS

A dor no lombo parece interminável. A retaliação à greve dos professores deu seus frutos. Milhares de professores voltaram às aulas na última segunda-feira. Humilhados pelo atual governo e seus feitores, entraram novamente nas salas de aula com a impressão de estarem entrando numa senzala.

As chicotadas disferidas pelos donos da casa grande, que não concebem nem a idéia do que é educar deixaram ranhuras que dificilmente se apagarão do repertório de cruezas, guardadas por homens e mulheres que ousaram propor melhorar as condições básicas para o exercício da docência.

Cortaram o ponto como se mutilava os pretos rebeldes na colônia lusa da América. Tiraram-lhe a comida do raso prato, quando não concederam o que pleiteavam; afastaram as migalhas do abono educador, quando reduziram seus valores, como troca de antecipação do pagamento.

O tronco ainda sangra, as correntes permanecem nos mesmos locais. O chicote, endurecido do sangue e suor dos trabalhadores da educação arrancaram partes essenciais e jogaram a indignação e a decepção pro alto.

Na sexta-feira teve festa na casa-grande, até uns pretos subservientes parecem ter comparecidos pra tomar bebida e comer do bom pelos préstimos. O feitor-mor estava orgulhoso do estrago. Seus cabelos encaracolados pareciam voltar ao normal. A semana passada estavam "levemente" arrepiados.

O sinhozinho, nas Princesas, não precisou sair e melar a bota com o sangue escravo deixado como rastro a caminho das 1.105 senzalas existentes na Província de Pernambuco. Ele espera agora que a produção se restabeleça. A eficácia de seus homens o impediram de sujar as próprias mãos, ficando o ônus da barbárie depositada na história da educação brasileira. Quem sabe um dia não dará uma boa monografia sobre a história do escravismo neo-colonial brasileiro na província de Pernambuco.

"Preto bom é preto morto...", parece que a história se repete.


2 comentários:

  1. Texto belíssmo. A analogia é primorosa!

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  2. Texto de uma profundidade e "poeticidade" divinas.Com certeza, irei usá-lo em sala de aula. Parabéns!!!!

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